O Visconde não poderia imaginar a que ponto a História chegaria. Francisco Adolfo de Varnhagen, diplomata e pesquisador erudito que mereceu de d. Pedro II o título de Visconde de Porto Seguro, fixou as principais convenções de uma disciplina ajuizada e prudente.
O aniversário de 190 anos de nascimento de um dos principais fundadores da História do Brasil não poderia deixar de ser lembrado na Revista de História. E bem lembrado. O artigo da seção Retrato desenha uma biografia marcada pelo trabalho diuturno e devotado aos ideais de um país que buscava se consolidar. Apresenta ainda uma notável descoberta: Varnhagen anteviu e se empenhou na criação de uma capital no planalto central do país.
Se as fronteiras da disciplina da História o mobilizavam, não era diferente com as fronteiras da pátria, assunto sobre o qual atuou especialmente nas delicadas questões de limites com as republicas vizinhas. O tema é atualizado em artigo de um companheiro de ofício que percorre as intrincadas relações entre o Brasil e seus vizinhos latino-americano
Mas se um dia Varnhagen imaginou uma história presa a convenções, faustos e figuras notáveis, alguma coisa saiu errado. Vários artigos adiante publicados sugerem, a começar pela animação estampada na capa, que outros temas se impuseram nessa trajetória brasileira. E não foi silenciosamente. As letras e os ritmos que marcavam a malícia dos escravos em relação a senhores e senhoras estão no texto sobre o Lundu, os risos e as gargalhadas das piadas impagáveis de Oscarito e Grande Otelo explodem no artigo sobre as chanchadas onde aparece sob o riso corrosivo a situação de homens e mulheres que escapavam da modernização do país na década de 1950. Da mesma forma a cultura letrada e refinada cede espaço para a afirmação do samba, cujos caminhos na história também desfilam nessa edição.
Ao contrário do que normalmente ocorre, se verá, o tempo fez bem à História do Brasil.
Carta do Editor - Nº 8
Luciano Figueiredo