Pouco mais de meio século depois da chegada do futebol ao Brasil, foi lançado um livro que até hoje é a principal referência sobre a história desse esporte no país. Desde muito jovem, seu autor mostrou a que veio: virar de cabeça para baixo a crônica esportiva carioca, até então dominada pelo esnobismo de jornalistas e escritores como Mário Pollo, Netto Machado e Coelho Neto. Seu texto valorizou a linguagem cotidiana e fez de Mário Filho (1908-1966), autor de O negro no futebol brasileiro, uma espécie de fundador do moderno jornalismo esportivo, como é conhecido hoje. Irmão de Nelson Rodrigues, natural do Recife, ele estreou na imprensa do Rio de Janeiro, aos 17 anos, nos jornais do pai, um trampolim para uma carreira vitoriosa como repórter, editor, diretor de redação e dono de jornais.
Ao inaugurar um novo estilo de jornalismo esportivo, Mário Filho fechou o foco na linguagem cotidiana e no modo como o futebol vinha sendo apropriado por jogadores e torcedores de origem humilde. Além disso, contribuiu significativamente para a história e a preservação da memória do futebol brasileiro por meio de uma produção consistente, na qual se destacam livros como Copa Rio Branco – 32,Histórias do Flamengo e O Romance do Foot-ball, todos da década de 1940. Pesquisador incansável, ele traça nessas obras um amplo painel do processo de assimilação do futebol pela sociedade brasileira.
De toda a obra do autor, O negro no futebol brasileiro é certamente o livro mais importante. Conta a história desse esporte no Brasil, com ênfase na luta dos jogadores negros e mulatos contra as barreiras e preconceitos que impediam seu reconhecimento esportivo, econômico e social. Uma primeira versão foi publicada em 1947, cobrindo o período que vai da chegada do futebol ao país até o início dos anos 1940. Em 1964, foi lançada uma segunda versão, atualizada com dois novos capítulos.
Cartão vermelho para os esnobes
Marcelino Rodrigues Silva