Chorinho com gosto de café

  • É comum atribuir-se o surgimento do choro ao sincretismo de tradições européias e africanas que eclodiu no Rio de Janeiro de meados do século XIX. Diz-se, não raro, que o choro associou as rebuscadas melodias da Europa aos ritmos vibrantes que vinham da África. No entanto, o pesquisador e bandolinista Carlos Henrique Machado Freitas tece uma teoria mais nacionalista: o choro, segundo ele, teria herdado apenas a estrutura européia. E grande parte das formas que o embasam teria surgido não na capital, mas no Vale do Paraíba.

    Em 2005, Machado Freitas lançou o CD duplo “Vale dos Tambores”, com composições próprias inspiradas nos ritmos e melodias dos primeiros compositores do Vale do Paraíba. O músico, que nasceu em Volta Redonda, no próprio Vale, passou dois anos e meio pesquisando até finalizar o projeto.

    Machado Freitas diz que, no século XIX, a grande massa de escravos estava nas fazendas de café do Vale do Paraíba e que essa mesma massa viria a povoar parte dos morros cariocas décadas mais tarde, levando seus ritmos para a capital. Segundo ele, o choro “Brejeiro”, de Ernesto Nazareth – cuja melodia é bastante caipira –, seria uma evidente influência vinda do Vale. Ele diz ainda que os baixos no samba e no choro evocam o som dos tambores usados pelos escravos das fazendas de café.

    “Vale dos Tambores” são dois CDs embalados em uma lata como a dos antigos biscoitos champagne. Os discos vêm acompanhados de um encarte com fotos e textos referentes à pesquisa.