A convite de Maurício de Nassau, o pintor Frans Post desembarcou em Pernambuco em 1636. Passaria oito anos retratando as paisagens do “Brasil Holandês”. Uma delas foi o Povoado numa planície arborizada, em óleo sobre madeira. Séculos depois, nos anos 1960, a tela despertou o interesse de Olavo Setubal, dono do banco Itaú, que decidiu adquiri-la para a instituição. Assim teve início a coleção Brasiliana, do instituto Itaú Cultural, que hoje reúne 969 obras entre aquarelas, desenhos e mapas, cobrindo cinco séculos da história da arte no Brasil. O acervo pode ser conhecido no Espaço Olavo Setubal, inaugurado em dezembro, ocupando dois andares da sede do instituto, no coração de São Paulo.
Nove módulos compõem a exibição, que se desdobra pelos temas O Brasil Holandês e O Brasil Secreto, abarcando obras do século XVI ao XVIII, e O Brasil da Capital, que vai até os anos 2000. “Não há, em lugar algum, uma exposição organizada sistematicamente, cobrindo a manifestação dos artistas, sobretudo estrangeiros, que tomaram o Brasil como tema”, sentencia Pedro Corrêa do Lago, curador da Brasiliana. Lago era amigo de Setubal, falecido em 2008, e colaborou com a formação do acervo.O espaço também acolheu o acervo de numismática do Museu Herculano Pires, do mesmo instituto. O percurso apresenta cerca de 1.300 artefatos, entre gravuras, têmperas, moedas e medalhas. Para o curador Vagner Porto, o maior desafio foi vincular suas peças à História da Arte. “Extrair aspectos ligados à Arte nos fez buscar alternativas, como usar muito o retrato das medalhas e das moedas que dialogassem com os respectivos retratos existentes em gravuras. Dessa forma, a escolha pontual das peças nos encaminha para um diálogo entre obras de arte, documentos e moedas que se complementam”, explica, destacando a condecoração A Ordem Imperial da Rosa, desenhada por Debret, e a medalha de D. João VI (Senatus Fluminenses), de autoria de Zéphyrin Ferrez.Uma simples moeda pode trazer revelações diversas sobre a arte e a cultura de uma sociedade e sua época. “Moedas dizem muito sobre a região onde foram cunhadas, não só pela legenda, mas pelas imagens representadas, trazendo informações primárias sobre a vida daquela sociedade – cereais produzidos na região, bens importantes do local, o busto de um imperador ou rei”, afirma a museóloga Paula Aranha, responsável pelo setor de Numismática do Museu Histórico Nacional (MHN).Por essas e outras, a proposta da coleção Brasiliana Itaú é única, como lembra Vagner Porto: “Essa agregação de moedas, documentos e obras de arte é inédita. Aqui, todos os tipos de materiais procuram dialogar, promovendo uma fluidez de compreensão”. As obras da exposição já percorreram seis cidades brasileiras e quatro capitais sul-americanas. Agora, ganham sede permanente.
Cinco séculos vos contemplam
Angélica Fontella