Um grupo de professores de História organizou um pequeno encontro em Marília, no interior de São Paulo. O ano era 1961. Entre discussões sobre o ensino universitário, acabou surgindo a ideia de criar a Associação Nacional de História (Anpuh), hoje a maior do país, com cerca de três mil associados. A comemoração pelos 50 anos começa este mês, com o XXVI Simpósio Nacional de História, de 17 a 22 de julho, no campus da Universidade de São Paulo (USP). Além disso, haverá quatro publicações especiais, e todo o material dos simpósios já realizados será divulgado na Internet.
“Não pensávamos em criar uma associação. Fomos ao simpósio em Marília para discutir o currículo dos cursos de graduação em História. Só na última sessão, ao apagar das luzes, surgiu a ideia de criar uma entidade que realizasse mais reuniões como aquela”, conta Francisco Calazans Falcon, um dos fundadores da Anpuh. A reunião de 1961 ocorreu na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Unesp, com a presença de 83 participantes: um grande contraste com os cerca de sete mil que foram ao último simpósio, em 2009.
Aquela foi uma das primeiras oportunidades que os historiadores tiveram para encontrar colegas de outras regiões do país. No entanto, segundo Caio Boschi, presidente da Anpuh de 1985 a 1987, foi só na década de 1980 que a associação se tornou verdadeiramente nacional, espalhando suas representações por mais estados. “Antes, ficava muito presa no eixo Sudeste-Sul”, conta ele. Foi nessa época também que a regulamentação da profissão de historiador ganhou força nos debates. “A Anpuh já era a favor da regulamentação, mas não conseguiu resolver essa questão. Há opiniões muito diferentes, estamos há mais de 30 anos discutindo isso”, diz Boschi.
Outro assunto que provocou polêmica foi a divisão entre bacharelado e licenciatura. “Não se deve separar o ensino do debate histórico, pois isso compromete a profissão do historiador. Você só pode ensinar o que sabe fazer. A ideia da Anpuh era que a regulamentação criasse um profissional uno”, explica Boschi.
De Associação de Professores Universitários de História (a primeira sigla foi Apuh), com interesses voltados apenas para o currículo universitário, a Anpuh também passou a defender o piso salarial e outras reivindicações dos historiadores. “As associações assumiram esse papel de sindicato principalmente depois do início da ditadura, em 1964. A Anpuh, mais que as outras, porque não era ligada apenas à pesquisa, começou a aceitar também professores de ensino médio e alunos. Isso incentivou a crítica ao regime”, conta Fernando Novais, da Unicamp. As mudanças atraíram novas levas de membros e participantes para os simpósios. Hoje, qualquer interessado pode se inscrever. A previsão é que a edição deste ano mantenha os sete mil participantes do ano passado.
Saiba Mais - Internet
XXVI Simpósio Nacional de História: www.snh2011.anpuh.org
Anpuh: www.anpuh.org
Cinquenta anos de debates
Cristina Romanelli