Eles estão em quase todas as bibliografias de História das universidades brasileiras. E também nas estantes dos leitores menos especializados. Desde que começaram a ser lançados no país, na década de 1970, já venderam mais de 200 mil exemplares. Reeditados este ano, os três volumes das “Eras” do historiador Eric Hobsbawm ganham novo projeto gráfico e capítulos revistos.
“Acredito que o sucesso que Hobsbawm conquistou no Brasil se deva a seu poder de análise e síntese. Que outro autor conseguiu explicar com tanta fluência o ‘longo século XIX’ como ele nessa trilogia?”, aposta Marcus Gasparian, diretor da editora Paz e Terra, que está relançando a obra. De fato, analisar a história do mundo moderno, da Revolução Francesa até a Primeira Guerra Mundial, não é pouca coisa num tempo em que as narrativas históricas estão cada vez mais microscópicas. E ainda por cima com um texto agradável, cheio de detalhes e sem tantos aparatos acadêmicos. Como o próprio autor deixou claro no prefácio do volume A era dos impérios 1875-1914, “embora escrito por um historiador profissional, o livro não se dirige a outros acadêmicos, mas a todos que desejam entender o mundo e que acreditam na importância da História para tanto”.
Professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense, Carlos Gabriel Guimarães costuma utilizar os capítulos de A era do capital 1848-1875 e A era dos impérios 1875-1914 em suas aulas dos cursos de História e de Economia. Segundo ele, os títulos são sempre muito bem recebidos pelos alunos. “Embora o marxismo e outras correntes históricas como A Escola dos Annales – que privilegiavam a totalidade histórica e a síntese – não dominem mais o campo da História, existe espaço para tais visões. Acho muito importante para os estudantes conhecê-las e fazer leituras da micro-história italiana”, assinala o professor.
Mesmo com tantos livros publicados por aqui, ainda há um Hobsbawm desconhecido para muitos pesquisadores. “Ele orientou excelentes teses de doutorado, como a do historiador suíço Youssuf Cassis, City bankers, 1890-1914, às quais o público brasileiro acadêmico não tem acesso”, informa Guimarães. Enquanto nenhuma editora brasileira se habilita a fazer essas traduções, os fãs do mestre britânico podem esperar mais reedições de sua obra. No ano que vem, será a vez de Bandidos, obra de 1969 esgotada há tempos no Brasil, e de uma seleção dos textos mais relevantes de A história do marxismo, coleção de 12 de volumes organizada pelo historiador.