Forasteiros, estrangeiros, emboabas. Assim eram chamados os não paulistas na região das Minas durante a corrida do ouro. A disputa era tão acirrada que deflagrou a Guerra dos Emboabas, entre 1707 e 1709. Do lado vencedor, o emboaba Manuel Nunes Viana foi um dos líderes do conflito. Nascido em Braga, Viana foi muito bem sucedido na colônia, e tornou-se exemplo da relação entre a cidade mais antiga de Portugal e o Brasil. Visando discutir interações como esta, o Festival de História (fHist) 2015 terá como tema “Diálogos Oceânicos”.
Na terceira edição do Festival, que acontece em Diamantina (MG) a cada dois anos, a maior novidade é a sede, ou melhor, uma das sedes: justamente Braga. “Na edição passada (2013), além das 16 delegações brasileiras de diversos estados, contamos também com a presença de alguns portugueses representantes de um órgão federal. Eles se encantaram com a experiência e as ideias foram evoluindo”, explica o coordenador do fHist, Américo Antunes. Foi então decidido que Portugal sediaria uma parte do evento (20 a 23 de maio) e Diamantina a outra (8 a 11 de outubro).A escolha dessa cidade, ao norte do país, fundada ainda no tempo dos romanos (Bracara Augusta), deveu-se à relação direta daquela região portuária com o Brasil, integrando um fluxo constante não só de pessoas, lembra Antunes. A influência do barroco, a religiosidade e até alguns personagens demonstram essa interseção entre os dois lados do continente. Existia toda uma mitologia em torno de bracarenses que foram à colônia e voltaram enriquecidos. “Muitos portugueses que vieram para a América portuguesa de fato enriqueceram e voltaram para Braga, tornando-se mecenas da cultura. Se você viu uma casa com palmeiras, pode ter certeza de que foi um bracarense que se deu bem, voltou e construiu seu palacete”.
A essência da programação são as mesas de debate, por onde já passaram nomes como o historiador Boris Fausto e o jornalista Ricardo Kotscho. A ideia do festival surgiu na época em que Américo trabalhava no Iphan e foi concebida em conjunto com a Revista de História da Biblioteca Nacional. A primeira edição aconteceu em 2011 e já expressava a multidisciplinaridade pretendida para abordar o tema História.Heloísa Starling, da Universidade Federal de Minas Gerais, acompanha o evento desde o início e destaca a interlocução entre todos os campos abraçados pelo festival. “As diferentes áreas têm suas próprias ferramentas e esse diálogo entre cada uma é muito interessante. Por exemplo, o jornalismo encaminha o olhar para o ‘fato’, buscando o máximo de informações possíveis, enquanto a História busca as reflexões e as conexões entre os acontecimentos”, diz a historiadora. Além dos debates, há oficinas de história, lançamentos de livros com prosa, mostras de cinema e shows de música e poesia. Em outubro, em Diamantina, a História será multimídia e internacional.
Conexão Braga
Angélica Fontella