“Fabricante de fábricas”. Assim o biógrafo Ronaldo Costa Couto classificou Francesco Matarazzo, o comerciante italiano que ganhou o Brasil diversificando e fazendo crescer a indústria nacional. Segundo Couto, em 1934 Matarazzo resumiu os segredos do sucesso com “alguma inteligência, certa capacidade gerencial, muito trabalho e sorte”. Nessa mesma época, a empresa Matarazzo iniciava a compra de terrenos para a construção de uma fábrica de tecidos em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. O prédio, tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto, está sendo restaurado desde 2009 pela Secretaria de Cultura de Ribeirão Preto e deve ser transformado no Complexo Cultural Matarazzo.
Da indústria à cultura, os galpões da antiga fábrica – comprados em 1981 pela Cia. Nacional de Estamparia, que decretou falência em meados de 1994 – irão abrigar a Secretaria Municipal de Cultura, o Museu da Imagem e do Som, a Biblioteca-Parque Guilherme Almeida e o Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. E o investimento é alto. Segundo a Secretaria, R$ 4,5 milhões serão aplicados no projeto aprovado em maio de 2011, com verbas do Ministério da Cultura e da própria prefeitura. “Vamos ocupar um espaço urbano sem qualquer atividade, localizado no bairro mais populoso e dos mais antigos da cidade, o Campos Elíseos. Daremos opção cultural aos moradores de toda a região”, explica Adriana Silva, secretária de Cultura.
Não é a primeira vez que Ribeirão Preto é agraciada com um projeto de tamanha importância. Nos anos 2000, a prefeitura criou 80 salas de leitura, transformando a cidade numa possível capital da cultura. Mas elas pouco contribuíram para o desenvolvimento da leitura na cidade, e hoje apenas metade delas permanece em atividade. “Muito se disse sobre este programa, do aumento da leitura e da revolução cultural que iria provocar na cidade, mas os resultados não foram de todo positivos”, comenta o historiador Rafael Cardoso, professor do Centro Universitário Barão de Mauá.
Ainda segundo Cardoso, a novidade do Complexo Cultural Matarazzo, que deve ser finalizado em 2013, é a construção da biblioteca-parque, anunciada como uma vitória cultural. “Em tese, a ideia é brilhante, mas penso que esses resultados somente servirão à cultura de Ribeirão Preto se de fato algumas outras promessas de 2000 forem cumpridas, como a transferência do Arquivo Público e Histórico da cidade e outras instituições, como o Museu da Imagem e Som, para o mesmo local”, diz ele.
Da indústria à cultura
Gabriela Nogueira Cunha