Rita nasceu na Guiné e foi trazida para o Maranhão no final do século XVIII. Ela virou escrava de João Diogo de Souza e passava boa parte do tempo trabalhando em campos de arroz. Em 1804, teve uma filha, chamada Veridina. Hoje, Rita é objeto de estudo de Walter Hawthorne, professor da MichiganStateUniversity (MSU), nos Estados Unidos. Assim como ela, mais de dez milhões de africanos vieram como escravos para a América e tiveram diferentes adaptações. Essas informações pessoais serão divulgadas aos poucos pelo projeto The Biographies: The Atlantic Slaves Data Network (ASDN), criado por Hawthorne e por Gwendolyn Hall, também historiadora da MSU. Até o fim de 2012, algumas informações já estarão disponíveis na Internet.
“Alguns estudiosos falam sobre as populações de escravos africanos nas Américas como se fossem uma multidão. Mas são grupos heterogêneos, com indivíduos de diferentes regiões que, às vezes, pouco tinham em comum. O ASDN se baseia em indivíduos. Assim podemos reconhecer padrões e também perceber quais sistemas permitiam aos escravos fazer suas próprias escolhas”, afirma Hawthorne, que é diretor do projeto.
O ASDN pretende que pesquisadores de diversas partes do mundo contribuam com suas pesquisas, seguindo o exemplo de bancos de dados como o The Transatlantic Slave Trade Database (www.slavevoyages.org), que reúne informações de quase 35.000 viagens feitas por navios negreiros. “Geralmente os pesquisadores reúnem dados para si e fica por isso mesmo. Gwendolyn e Walter estão dando um bom exemplo, colocando informações no banco de dados, disponível para todos. Depois que mais material for reunido, será possível fazer comparações e inventar uma série de questões, como o percentual de pessoas que saiu de determinada região da África e veio para o Brasil”, conta Mariza de Carvalho Soares, historiadora da UFF e autora de Devotos da Cor (Civilização Brasileira, 2000).
Desde o Concílio de Trento, no século XVI, por determinação da Igreja Católica, os documentos das paróquias devem ser mantidos. Isso facilitou o trabalho dos historiadores, que conseguem encontrar informações sobre escravos em registros de nascimento, casamento, batismo e óbito. “Nesses documentos, é possível encontrar, muitas vezes, o nome do escravo e de seus pais, sexo, origem, etnia, idade, relações familiares, doenças mais comuns e causa de óbito”, conta Manolo Florentino, historiador da UFRJ que organiza bases de dados sobre escravos no Brasil há 25 anos.
Os dados coletados nas pesquisas de Florentino foram solicitados pelo projeto, mas ele ainda está negociando a participação. “Deve haver equipes nos principais países e informações em português. Só assim o banco de dados será frutífero para a maioria dos pesquisadores brasileiros. O problema é que isso encarece o projeto”, afirma. A proposta é que, até 2014, o banco de dados esteja disponível em português, inglês, francês e espanhol. Resta saber se o orçamento será suficiente.
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Cristina Romanelli