“Diz-me o que comes e te direi quem és”, já sugeria o francês Brillat-Savarin (1755-1826), o primeiro teórico da gastronomia. A frase causa impacto e não esconde a verdade. Faz tempo que a culinária é considerada uma forma criativa (e deliciosa) de se entender a cultura e a história de um povo. Afinal, como explicar que um picadinho de cachorro faça o maior sucesso na China e, no Brasil, cause até arrepios? Buscando explorar essa variedade de tradições, o “II Slow Filme: Festival Internacional de Cinema e Alimentação” leva a Pirenópolis, Goiás, 18 filmes de várias partes do mundo, que têm como protagonistas a comida e, claro, quem a produz.
“Ele é dedicado a obras que afirmam as culturas locais, seja do Brasil, da França ou da Líbia”, diz Sérgio Moriconi, curador da mostra. O organizador comenta que um dos destaques do festival é o documentário estreante A Horta de Seu Geraldo, um curta-metragem que narra a saga de um homem que tenta preservar sua tradição familiar de cultivo à terra ao mesmo tempo em que se esforça para garantir o sustento de sua família. Fora da telona, acontece uma programação diferente, que conta com degustação de cervejas artesanais, palestras e visitas à área rural.
O evento é uma adaptação de um festival de cinema italiano, intimamente ligado ao SlowFood – uma oposição ao FastFood –, tendência que surgiu nos anos 1980, baseada na ideia do alimento “bom, justo e limpo”. A historiadora Rosana Peccini, que também é chefe de cozinha, explica um pouco do movimento que vem crescendo nos últimos anos: “O alimento deve ser saboroso e fresco, resultado de uma atividade que expresse um grupo social; deve ter preço justo e acessível à população; por último, deve ser saudável”. Porque, em sua opinião, “as cozinhas regionais revelam a memória de um povo. Analisá-las é conhecer a tradição oral, a miscigenação e a história”.
Também estará em cartaz no festival o filme "O mineiro e o queijo", de Helvécio Ratton, o qual já foi alvo de uma reportagem da seção "Em Dia", da edição de julho. Leia aqui a matéria.
De dar água na boca
Alice Melo