De galho em galho

Cristina Romanelli

  • O curador Luiz Antonio Lopez de Souza em um dos ambientes da exposição.A Biblioteca Nacional ocupa, desde 1910, um prédio construído no Centro do Rio de Janeiro para abrigar um milhão de volumes. Hoje ela é a maior da América Latina, e ultrapassa o limite de armazenamento, com cerca de nove milhões de peças. O acervo aumentou muito no século passado, mas o espaço ficou insuficiente ainda na primeira sede, onde hoje funciona o Hospital da Ordem Terceira do Carmo, também no Centro da cidade. Dali, os livros e documentos ainda passaram por outro prédio, um pouco maior, antes de se instalarem no atual. A exposição “100 anos de uma arquitetura para o saber”, em cartaz no terceiro andar da Biblioteca até fevereiro, mostra essa trajetória, com fotos das sedes antigas, plantas e um vídeo com imagens da construção do prédio atual.

    Os primeiros volumes do acervo da BN pareciam esquecidos. Ficaram encaixotados em diferentes locais da cidade desde que chegaram, em três levas, em 1810 e 1811. Só em 1812 foram para o prédio do Hospital da Ordem Terceira do Carmo. Segundo Luiz Antonio Lopes de Souza, arquiteto da Fundação Biblioteca Nacional e curador da exposição, na Divisão de Iconografia há testemunhos dessas primeiras ocupações, além de fotos antigas da parte externa do hospital, construído entre meados do século XVII e o século XVIII. “Montamos a mostra com os documentos que temos aqui, e só por eles não dá para saber em que parte ficava a Real Biblioteca. Mas com certeza era uma área pequena”, conta ele.

    Em 1852, a Biblioteca fez as malas e foi para sua segunda sede, principalmente pela falta de espaço para o acervo, que aumentava com novas compras e doações. Segundo Souza, na BN há uma carta do bibliotecário frei Camillo de Monserrate relatando a D. Pedro II a necessidade de encontrar um novo prédio. O edifício escolhido, que não existe mais, ficava onde hoje funciona a Escola de Música da Universidade Federal do Rio Janeiro, na área do Passeio Público, também no Centro da cidade. A Divisão de Iconografia tem desenhos, a planta do local e um álbum de 1902 com fotos dos ambientes internos. “O primeiro prédio era um pouco ‘improvisado’, mas o segundo tinha salão de leitura, armazéns. Ali a instituição começou a funcionar mesmo como biblioteca pública”, diz o arquiteto.

    Apesar das melhorias, mudar de casa não resolveu os problemas. Na BN há uma carta do diretor à época com reclamações sobre a falta de espaço também na segunda sede. Não adiantou nem alugar um anexo na Rua das Marrecas, perto dali. A solução foi construir um prédio de 13 mil metros quadrados em frente à Cinelândia, também no Centro da cidade. “A área é infinitamente maior que a das sedes anteriores. Mesmo assim, há muitas décadas temos dificuldade para armazenar o acervo”, conta Souza. Na exposição, é possível ver medalhas comemorativas da inauguração do prédio atual, desenhos de alguns móveis e até o projeto de uma torre anexa, feito pelo arquiteto Lúcio Costa na década de 1970.