Quatro anos antes de falecer, o historiador carioca Nelson Werneck Sodré (1911-1999) fez questão de doar seu arquivo pessoal à Fundação Biblioteca Nacional. Já se passaram duas décadas e a atitude ainda repercute: em 2010, o pesquisador Pedro Lapera “descobriu” no acervo um manuscrito inédito do autor. “Quando vi o texto pela primeira vez, achei-o tão organizado que pensei tratar-se de uma cópia corrigida de algum livro já publicado”, lembra. O estudo datilografado sobre o pós-modernismo foi constatado como inédito e agora vira livro: será o décimo volume da coleção Cadernos da Biblioteca Nacional, lançado este mês.
O pós-modernismo: José Lins do Rego e Graciliano Ramos vem romper um silêncio de quatro anos da série. Os Cadernos tiveram início em 2007 com quatro volumes, dos quais Reflexão sobre a vaidade dos homens, de Matias Aires, tornou-se um dos mais vendidos. “A ideia da coleção é publicar reedições de livros importantes há muito tempo fora de catálogo, preferencialmente sobre o Brasil, ou ainda títulos inéditos”, explica Marcus Venicio Ribeiro, coordenador-geral do Centro de Pesquisa e Editoração da BN e responsável pela edição de todos os volumes. Os volumes são independentes e o intervalo de lançamento varia conforme as possibilidades técnicas e financeiras da Biblioteca.Além da inédita obra de Sodré, está programado para abril o lançamento do volume de número 11: Doze horas em diligência: guia do viajante de Petrópolis a Juiz de Fora, em que o fotógrafo Revert Henry Klumb narra uma de suas viagens no final do século XIX. O original, de 1872, vinha ilustrado com litogravuras das paisagens que ele observou. Nessa nova edição, todas foram reproduzidas.Entre as publicações já lançadas, ao lado dos consagrados Aluísio Azevedo – O Japão (2010) – e Euclides da Cunha – Caderneta de Campo (2009) – há outras preciosidades. Para a elaboração do quarto volume, O bibliotecário do rei (2007), Marcus Ribeiro e Mônica Auler selecionaram trechos das centenas de cartas de Luís Joaquim dos Santos Marrocos, trocadas com o pai e a irmã entre 1811 e 1821. Marrocos era um bibliotecário português que atracou no Rio acompanhando a segunda remessa de livros da Real Biblioteca. Observador, ele narra os acontecimentos da cidade e da corte para a família naquele início de século. “Ele era uma figura. Detestava o Rio de Janeiro e o calor, e fazia muita fofoca, já que via os acontecimentos de dentro do Paço. Mas com o passar do tempo se afeiçoa pela cidade”, comenta Ribeiro.
A diversidade da coleção comprova-se ainda com o Diário Carioca – O jornal que mudou a imprensa brasileira (2011). “O Diário foi instaurador de uma série de modernidades e procedimentos no cotidiano do jornalismo, como a figura do copydesk e os manuais de jornalismo”, destaca Nilo Sérgio, professor de história do jornalismo na UFRJ.
De raros a esgotados
Angélica Fontella