De volta à cena

Cristina Romanelli

  • “Fechado. Closed. Fermé.” A placa trilíngue no portão não deixa dúvidas. O Museu Internacional de Arte Naïf (Mian), no Rio de Janeiro, não conseguiu se manter aberto nem para os turistas estrangeiros, seus principais visitantes. Apesar da localização nobre, ao lado da estação de trem do Corcovado, e do acervo de mais de 6.000 obras de 120 países, o maior museu do gênero no Brasil fechou as portas há um ano por falta de verbas. A boa notícia é que a placa tem data para sair dali: final de abril. Com ajuda da prefeitura, do governo do estado e do fundo holandês Prince Claus Fund, a reserva técnica está sendo reformada e o museu ganhará nova exposição, identidade visual e ações educativas, como cursos, oficinas e palestras.

    “No Brasil, há um olhar muito elitizado. Nós negamos essa arte espontânea, produzida por autodidatas que não têm formação culta no campo das artes. É um absurdo que, ainda hoje, o museu com o maior acervo naïf do país lute para se manter aberto”, afirma o escritor e pesquisador Romildo Sant’anna, que foi diretor-fundador do Museu de Arte Primitivista José Antônio da Silva, em São José do Rio Preto.

    José Antônio da Silva (1909-1996) é apenas um dos artistas brasileiros reconhecidos mundo afora, ao lado de nomes como Djanira (1914-1979) e Chico da Silva (1910-1985). O preconceito que suas obras enfrentam hoje existe desde os primórdios da arte naïf. O primeiro grande pintor do gênero, o francês Henri Rousseau (1844-1910), foi visto como “inculto” por um bom tempo, até que em 1928 uma exposição de arte naïf foi organizada na França. Nessa época, o estilo já havia obtido o apoio de artistas como Pablo Picasso.

    Aparentemente, hoje só os próprios brasileiros não se dão conta do valor da arte naïf nacional. Até a ideia de criar o Mian partiu de um francês, o joalheiro Lucien Finkelstein (1931-2008). “Ele viajou o mundo todo e montou sua coleção de arte, com muitos quadros naïf. Fez uma exposição no Paço em 1988 e abriu o museu em 1995. Uma pintura da coleção foi capa da revista Time, publicamos alguns livros, e nossas obras já participaram de mostras na Eslováquia, na França, na Suíça e até na sede da ONU, em Nova York”, conta Tatiana Levy, neta de Finkelstein e gerente executiva do museu.

    Fazem parte do acervo as duas maiores obras do gênero: o quadro “Brasil, 500 anos”, de Aparecida Azedo, com 24 metros de comprimento por 1,40m de altura, e “Rio de Janeiro Gosto de Você – Gosto dessa Gente Feliz”, de Lia Mittarakis, com quatro por sete metros. Antes que os visitantes possam vê-los novamente, a equipe do museu tem uma preocupação: reformar a fachada e a varanda da casa. “Fundos públicos não apoiam obras em propriedades particulares. A solução foi nos inscrevermos no site www.benfeitoria.com.br para reunir o dinheiro necessário. Quem fizer uma doação receberá algo em troca, como ingressos ou livros”, explica Tatiana. A contagem regressiva já começou. Ela diz que o museu precisa juntar R$ 60 mil até junho, ou a obra não sairá do papel.

     

    Saiba Mais - Internet

    Mian: Rua Cosme Velho, 561 – Rio de Janeiro.

    http://www.museunaif.com.br/