Se a possibilidade de encontrar novas espécies atrai pesquisadores para o Brasil até hoje, não é difícil imaginar o fascínio que a riqueza biológica despertava nos naturalistas dos séculos XVIII e XIX. Eles seguiram mata adentro registrando tudo em cadernos, mapas e ilustrações, e levaram o material para ser estudado na Europa. Há pouco mais de cinco anos, alguns projetos começaram a copiar as informações botânicas em imagens em alta resolução para trazê-las de volta ao Brasil. O CNPq também entrou na roda, e vai lançar no final de 2013 um herbário virtual com mais de 800 mil amostras.
Um dos primeiros projetos a trazer essas informações foi o Herbário Virtual da Flora e dos Fungos, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, que está coletando imagens do New York Botanical Garden e do Missouri Botanical Garden. “A taxonomia é uma ciência comparativa; é preciso visitar várias vezes os herbários. Trazer essas informações do exterior vai facilitar muito nosso trabalho”, conta Dora Canhos, diretora do Centro de Referência em Informação Ambiental, um dos responsáveis pelo projeto.
O material não servirá apenas para pesquisa. Segundo Dora, ele pode ajudar no reflorestamento, já que revela parte da flora original dos locais por onde os naturalistas passaram. “Vai ser útil em áreas de conservação, na preservação das espécies e na orientação de novas coletas. Não temos muitas informações, e estamos desmatando tudo antes de conhecer. O Brasil tem 20% da biodiversidade do mundo, mas apenas 30 milhões de amostras, o que seria 1% do que há lá fora”, denuncia.
Outro projeto é o Herbário Virtual A. de Saint-Hilaire, que está reunindo toda a coleção botânica do pesquisador francês. O site tem dados bibliográficos, notas de campo, mapas e imagens dos espécimes depositados no Museu Nacional de História Natural de Paris. “O portal foi lançado em 2010, mas ainda vamos colocar muita coisa. Vai ser um site completo sobre Saint-Hilaire, que descobriu mais de mil espécies brasileiras, como a erva-mate”, conta Sergio Romaniuc Neto, coordenador do projeto no Brasil.
O museu de Paris, junto com o Royal Botanic Gardens, Kew, de Londres, concentra a maioria dos dados coletados pelos primeiros naturalistas no Brasil. E é a partir do acervo dos dois que o projetoPlantas do Brasil: resgate histórico e herbário virtual para a conservação da flora brasileira – Reflora, do CNPq, vai desenvolver um herbário virtual, coordenado pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ). “Se essas informações forem relacionadas aos cadernos de campo e às anotações etnográficas, podem se tornar um material precioso para historiadores”, diz Rafaela Campostrini Forzza, coordenadora do Projeto Reflora no JBRJ. Com os dados todos na Internet, historiadores de qualquer lugar do mundo poderão começar suas pesquisas.
Saiba Mais - Internet
Herbário Virtual da Flora e dos Fungos:http://inct.florabrasil.net/
Herbário Virtual A. de Saint-Hilaire:http://hvsh.cria.org.br/
De volta pra casa
Cristina Romanelli