Ao mesmo tempo em que seguiu carreira militar, Nelson Werneck Sodré (1911-1999) foi membro do Partido Comunista, professor, escreveu mais de cinquenta livros e se tornou referência no campo da História. Essa trajetória foi lembrada em abril, quando completaria 100 anos, mas muitas homenagens ainda estão por vir. Nos dias 7 e 8 deste mês, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro promove uma mesa-redonda e uma palestra. Já na Biblioteca Nacional, continua até o dia 30 uma exposição com o acervo doado por Sodré, que inclui fotos da família e cartas trocadas com Luiz Carlos Prestes e Carlos Drummond de Andrade. No segundo semestre, haverá debates e mesas-redondas na Universidade de São Paulo, na Universidade Federal de Alagoas e na Universidade Católica de Pernambuco. Nesta última, será relançado, pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), o clássico História da Imprensa no Brasil, publicado pela primeira vez em 1966. “Numa época em que não havia o curso de História, Nelson teve uma formação praticamente autodidata, escreveu sobre vários campos. História da Imprensa Brasileira é uma de suas principais obras”, diz o historiador Marcos Silva, organizador do Dicionário Crítico Nelson Werneck Sodré (Editora UFRJ, 2008).
Um lugar onde não devem faltar eventos é a cidade de Itu, em São Paulo, onde foi decretado pela prefeitura o Ano Nelson Werneck Sodré. “Ele viveu em um quartel em Itu, e foi aqui que conheceu minha mãe. A família dela é daqui. A cidade respondeu de uma maneira maravilhosa ao centenário. Até o jornaleiro veio me elogiar pelo trabalho que estamos fazendo”, conta a filha Olga Sodré.
Como militar, o carioca Sodré foi muito além de Itu. Percorreu boa parte do país e, com isso, teve uma visão diferenciada de nacionalidade. “Ele passou a pensar o Brasil como um todo. Defendia que não poderia haver desenvolvimento sem luta pela cultura brasileira”, diz Olga. Para Ivan Alves Filho, historiador e coautor de Tudo é política, Sodré fez parte de uma geração que se sentia envolvida com a transformação do país. “Naquela época havia um projeto para o Brasil. Isso incentivou nomes como Sérgio Buarque de Holanda e Oscar Niemeyer. Eles misturavam sua vida com a do país”, diz ele.
Sodré chegou a fazer parte do Partido Comunista (PC) e a defender algumas de suas ideias publicamente. “Havia poucos militares de esquerda, e eles agiam de maneira sigilosa, ao contrário de Sodré. Mas, apesar de ter até aparecido em alguns programas do PC, ele nunca assumiu publicamente que pertencia ao partido e chegou a defender algumas ideias contrárias”, conta o sociólogo Paulo Ribeiro da Cunha, autor de Nelson Werneck Sodré: Entre o Sabre e a Pena (Editora Unesp), que ganha este mês uma segunda edição. Dono de personalidade forte e de uma história rica e cheia de contradições, Sodré oferece material suficiente para muitos eventos em seu centenário.
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Defensor do Brasil
Cristina Romanelli