Linguiça cozida, chucrute, joelho de porco, croquete e roscas de polvilho. As heranças da imigração alemã no Brasil permanecem vivas na nossa cultura e algumas podem até dar água na boca. É o que mostra o projeto Rota Caminho das Velhas Colônias, desenvolvido em cinco municípios do Vale do Caí, no Rio Grande do Sul, que tem o objetivo de preservar as tradições culturais das comunidades locais por meio do turismo, chamando a atenção para a culinária.
O projeto foi iniciado em 2006 e integra gastronomia, música, artesanato e arquitetura ao roteiro de visitação. Nos últimos seis meses, movimentou cerca de R$ 25 mil, segundo a organização da rota, que acredita que o turismo é uma boa forma de preservar tradições. “Todo o roteiro é baseado na imigração alemã. É uma maneira de mostrar ao visitante os costumes, os legados e as tradições deixados pelos antepassados e que continuam vivos”, comenta Liani Büttenbender, coordenadora da iniciativa. Ela conta que as comunidades do Vale do Caí são predominantemente rurais e nasceram em meados do século XIX, com a chegada de imigrantes da cidade de Hunsrück, no oeste da atual Alemanha.
Como toda herança cultural, a culinária se transforma no contato com os costumes locais. Receitas trazidas pelos imigrantes, como sauerkraut (chucrute), eisbeins (joelho de porco), schimier (doce de frutas pastoso) e cuca (tipo de pão doce), se misturam com ingredientes brasileiros, sendo adaptados a novos pratos, como o polvilho, derivado do aipim. A rosca de polvilho é hoje um dos itens em destaque do café colonial alemão servido nos restaurantes da rota.
A cana-de-açúcar também ganhou espaço na alimentação dos colonos alemães no estado. Na propriedade rural da família Stein, em Salvador do Sul, por exemplo, o visitante vê como é feito o caldo de cana em uma moenda puxada por tração animal. Além disso, o local tem uma produção caseira de feijão, compotas de frutas e legumes, e a tradicional spritzbier, um tipo de cerveja alemã feita com gengibre.
O professor Fabiano Dalla Bona, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz que as transformações e as incorporações de outras manifestações estrangeiras em algumas regiões contribuem para constituir o patrimônio cultural brasileiro. “A questão gastronômica é uma peça-chave. Estamos falando de um patrimônio que outrora era do ‘outro’, do imigrante estrangeiro, mas que hoje, por vezes, nem mais nos damos conta disso. Certos pratos, nomes, ingredientes parece que aqui nasceram, que aqui sempre existiram, pois estão de tal modo amalgamados aos nossos hábitos cotidianos que é até mesmo curioso o fato de eles não serem ‘nossos’, na origem”.
Delícias que vêm de longe
Déborah Araújo