Deus é brasileiro

Cristina Romanelli

  • Cristo Redentor / Foto: Wikimedia-ccVolta e meia, livros e reportagens afirmam que o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, foi um presente do governo francês. Não é à toa que a família de Heitor da Silva Costa (1873-1947), autor do projeto, está há um bom tempo tentando dar um jeito nessa história mal contada. Este ano, ela terá boas oportunidades. De 14 a 21 de agosto, será realizado na cidade o Congresso Mundial de Art Déco, com especialistas no estilo decorativo do Cristo. Nos meses seguintes, alguns eventos vão comemorar o aniversário do monumento, que completa 80 anos em outubro.

    “O Cristo é o maior monumento em art déco do mundo. Ele é vanguardista, uma mostra da proeza brasileira em estética e engenharia”, diz Marcio Roiter, presidente do Instituto Art Déco Brasil. O congresso organizará uma mesa-redonda e um passeio até o monumento. “Vamos trazer Michèle Lefrançois, a maior especialista no escultor Paul Landowski, que participou da concepção do Cristo. E também Maria Izabel Noronha, bisneta do Heitor da Silva Costa”, conta Roiter.

    Maria Izabel é diretora de dois filmes que serão exibidos durante o congresso: “De braços abertos” (2008) e o curta-metragem “Christo Redemptor” (2005). Eles são o resultado de uma longa pesquisa, iniciada há mais de dez anos. “Encontrei discursos e livros escritos pelo Heitor, guardados por meu tio-avô. Se não tivesse esse material, essa história poderia ter se perdido. Não achei quase nada nos arquivos da cidade nem fora do Brasil”, diz ela. 

    O francês Paul Landowski é quem geralmente ganha o crédito pela concepção do monumento. No entanto, segundo informações encontradas por Maria Izabel e confirmadas pela própria filha do escultor, Landowski foi o responsável pela maquete da obra e pelo molde do rosto e das mãos em gesso. Nada mais. “O fato de os moldes terem vindo da França em tamanho real pode ter ajudado a criar essa confusão. Mas o Cristo foi todo feito aqui, Landowski nunca nem veio ao Brasil”, afirma Maria Izabel.

    Além do escultor francês, Heitor da Silva Costa teve mais apoio: Carlos Oswald ajudou a fazer o desenho, Heitor Levi foi o encarregado geral das obras e Albert Cacquot, o responsável pelos cálculos estruturais. Sem contar o resto da população brasileira, que, por meio de quermesses, campanhas e doações, conseguiu juntar o dinheiro necessário para erguer o monumento.

    Aproveitando a data, Maria Izabel está buscando patrocínio para uma série de eventos em outubro, e até o fim do ano pretende lançar um livro com suas pesquisas. Enquanto isso, a administração do Cristo também planeja algumas comemorações, e até reformas deverão ser feitas em breve. Um projeto de revitalização foi aprovado pelo Iphan no ano passado e agora está na fase de captação de recursos. Pelo jeito, o aniversário do Cristo vai ser digno de uma das novas maravilhas do mundo.