Dinossauro com polenta

Julio Bezerra

  • Algo acontece nos confins da Bacia do Jacuí, no Rio Grande do Sul. Do mesmo solo onde se colhe o radicchio, que acompanha a polenta de cada dia, vêm à tona fósseis de vertebrados e botânicos do período triássico – a mais antiga das eras dos dinossauros, ocorrida há mais de 200 milhões de anos.

    As descobertas começaram há algum tempo. A novidade é que, em vez de ficar restrita à comunidade científica e ir direto para museus nacionais e internacionais, a identidade paleontológica está virando um patrimônio cultural dos moradores da região. Isso é fruto do trabalho do Condessus/Quarta Colônia, entidade mantida por nove municípios, vencedora do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2008 na categoria Proteção do Patrimônio Natural e Arqueológico.

    Em 2000, a área ganhou projeção internacional graças ao fóssil de Sacisaurus agudoensis encontrado por lá. O dinossauro do Jacuí motivou as primeiras conversas para a criação dos Parques Paleontológicos Integrados da Quarta Colônia.

    O objetivo é integrar a produção de conhecimentos ao desenvolvimento econômico local. Para isso, está sendo construído o Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa), que vai oferecer às universidades infra-estrutura para o ensino e o monitoramento de pesquisas nos afloramentos fossilíferos da região. Previsto para entrar em funcionamento em 2009, o complexo fica na área urbana do município de São João do Polêsine. Em seqüência, a Quarta Colônia vai abrir três unidades museológicas, em Faxinal do Soturno, Agudo e Dona Francisca. “Juntas, elas farão de forma integrada um recorte do período triássico. As exposições permanentes, temporárias e a visitação aos sítios serão mediadas por especialistas para estudantes do ensino fundamental, médio e universitário”, explica José Jerundino Machado Itaqui, secretário executivo da Quarta Colônia e mentor do projeto.

    A localização privilegiada dessas relíquias pré-históricas – ao lado de grandes áreas de Mata Atlântica –, sem falar na típica cultura do interior gaúcho, são atrativos a mais para o desenvolvimento turístico da região. “A paleontologia era o elemento catalisador que tínhamos e não nos dávamos conta. Agora, os inventários técnicos fundamentam a riqueza do lugar em que vivemos e nos dão informações preciosas para melhor entendermos a nossa região, para saber o que temos e o que devemos fazer para conduzir o nosso desenvolvimento”, sublinha José Itaqui.

    A Quarta Colônia pretende ser um exemplo de como turismo, ciência, cultura e meio ambiente podem andar juntos.