Primeiro de maio é feriado: Dia do Trabalho.
No Dia do Trabalho, pouco se trabalha.
A partir do dia seguinte, funcionários públicos, operários e metalúrgicos voltam aos postos. Recomeça o esforço.
A partir de 2 de maio, no entanto, um grupo de trabalhadores ficará exposto em uma letargia contínua. Eles estarão se mexendo, suando – e mesmo assim, continuarão estáticos, impassíveis. Esses trabalhadores estarão enquadrados nas 150 fotos da exposição Trabalho e trabalhadores do Brasil, que, durante quatro meses, passará pelo Distrito Federal e pelas oito maiores capitais do Brasil.
A exposição, que começou a ser pensada em outubro de 2004, foi organizada por Paulo Fontes e Mônica Kornes – pesquisadores do Centro de Pesquisa e Documentação da História Contemporânea do Brasil (CPDOC/FGV) – e Alexandre Fontes, pesquisador da Universidade Federal Rural. As fotos, garimpadas em arquivos públicos, pessoais e em sindicatos, retratam trabalhadores brasileiros de meados do século XIX até hoje.
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Alexandre Fontes diz que a exposição não está restrita ao mundo profissional: “O trabalho é vital para se pensar a idéia de democracia e da construção dos direitos humanos. Cria identidades e reflete expressões culturais”.
É seguindo essa lógica que a exposição apresenta imagens de uma história profissional bem brasileira: trabalhadores assistindo a um comício sentados sobre uma trave de futebol; um baile em pleno sindicato; um operário tocando sanfona durante o intervalo de almoço.
Os pesquisadores procuraram, também, aproximar profissões de universos distintos e de “estética” parecida: foram colocadas, lado a lado, fotos de um call center, de uma bolsa de valores e de garimpeiros em Serra Pelada. Outro exemplo: um escravo do século XIX rente a um bóia-fria do século XX. Há, ainda, trechos de poemas antigos narrando cenas recentes. Assim, um escravo de hoje é descrito por versos de o “Navio negreiro”, de Castro Alves. Certas formas de emprego – ou subemprego – sobrevivem ao tempo.
Se o tempo perpetuou certas injustiças, fez questão também de amaciar certas relações. Alexandre Fontes diz que, no Brasil, “o trabalhador não é só o trabalho”: “Ele é também o boteco ou o jogo de dominós no intervalo. Nossas formas não são tão rígidas.”