Do microfilme para o cinema

Lara Monsores

  • Jornalista Zola da Silveira em pesquisa na BNMina de ouro para pesquisadores do Brasil inteiro, o acervo de periódicos da Biblioteca Nacional é também o queridinho dos cineastas. Geralmente, a análise dos microfilmes de jornais e revistas é o primeiro passo para a produção de documentários. O pesquisador dedica dias, meses e até anos apurando os detalhes de uma história, procurando registros e depoimentos até encontrar as informações necessárias para o roteiro final.

    Foi assim com André Iki Siqueira, autor do livro João SaldanhaUma vida em jogo e codiretor do documentário “João Saldanha”, que contam a trajetória do jornalista e técnico de futebol. Siqueira lembra como o acesso aos jornais da época o ajudou a entender o que havia por trás da demissão de Saldanha do cargo de treinador da seleção brasileira de futebol, em 1970. “Havia uma informação de que o Cláudio Coutinho, militar e membro da comissão técnica da seleção, tinha sido chamado a Brasília pelo ministro Jarbas Passarinho para articular a demissão do João, que era reconhecidamente um militante comunista. E eu encontrei uma matéria do jornal O Globo em que o coronel Ronaldo Coutinho, irmão do Cláudio, confirmava essa história.”

     “João” estreou recentemente nos cinemas, mas há vários projetos que ainda estão sendo pesquisados nos arquivos da BN, como o do documentário sobre a artista plástica mineira Maria Martins (1894–1978), dirigido por Ícaro Martins. Desde outubro de 2011, a pesquisadora Sarah David analisa os rolos de microfilmes à procura de uma coluna escrita pela artista na década de 1960. “Essa coluna é muito rara, não foi publicada em nenhum livro sobre a Maria, e eu consegui achar três no acervo do Correio da Manhã”, diz Sarah.

    Outro documentário que bebe na fonte da BN terá como protagonista o Palacete do Rio Madeira, em Porto Velho. O jornalista Zola da Silveira descobriu que, em 1962, o prédio fora doado aos estudantes pelo governo de Rondônia para ser a sede da União Nacional dos Estudantes e, posteriormente, um Centro Popular de Cultura. “Porém, o imóvel foi tomado pelo regime militar durante o golpe de 1964 e nunca mais foi devolvido aos estudantes. Atualmente, o palacete é usado como hotel de passagem para os militares”, explica o pesquisador.

    Os registros dessa história não existem mais nos arquivos rondonianos, por isso a produção precisou se deslocar para o Rio de Janeiro e garimpar o acervo da BN. “Já gravamos, inclusive, algumas imagens dentro da Biblioteca Nacional e ainda gravaremos em Rondônia”, adianta Jurandir Costa, diretor do filme. No que depender da BN, que tem o maior acervo de periódicos da América Latina, o cinema nacional vai longe.

     

    Mais informações sobre o acervo da BN: www.bn.br/periodicos.