Documentação nos trilhos

Cristina Romanelli

  • Um minitrem cm a marca RFFSA. A rede foi extinta em 2007 pelo Programa Nacional de Desestatização.Entre traças, baratas, escorpiões e muita umidade. Assim foi encontrada grande parte dos documentos da Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) em Belo Horizonte. Desde que a sociedade foi extinta, em 2007, a antiga sede no Bairro Floresta, Região Leste da cidade, tinha duas finalidades: abrigar atividades de ferreomodelismo e servir de depósito para o material que conta boa parte da história das ferrovias e da cidade. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) já recolheu e tratou quase 20 mil documentos. Ainda este ano, será criada uma base de dados do acervo já tratado, e o casarão-sede da companhia – também repassado para o Iphan – será restaurado e transformado no Centro da Memória Ferroviária.

    A RFFSA era uma sociedade de economia mista vinculada ao Ministério dos Transportes. Foi criada em 1957 pela junção de 18 ferrovias nacionais e controlava 73% das linhas em 1996. Apesar de ter existido por apenas 40 anos, grande parte da documentação já pertencia à administração das estradas de ferro. Com a extinção da Rede, os documentos foram incorporados ao patrimônio da União [Ver RHBN nº 53].

    Parte dos quase 20 mil documentos encontrados e tratados pela equipe da bibliotecária Mônica Elisque.O Iphan recebeu o material em 2008. Depois de higienizar, reparar e registrar mais de onze mil livros e periódicos das décadas de 1950 a 1990, a equipe coordenada por Mônica Elisque, chefe do Centro de Documentação em Minas Gerais, iniciou uma segunda etapa, em que está tratando um acervo mais delicado. Além de livros, catálogos e periódicos, há 440 obras consideradas raras. Um exemplo é o conjunto de livros com as leis em vigor no Império em 1881 chamado Collecção das Leis do Império do Brazil. Segundo Mônica, as obras estavam em uma sala fechada, perto do porão. “A sala estava lacrada, encontramos por acaso. E pode ser que encontremos ainda mais coisas”, diz ela.

    A maior parte do acervo é documental. São correspondências internas, desenhos de vagões, relatórios técnicos, fotografias e plantas de estações de trem. Mas também há um acervo móvel de 236 peças que pertenceram ao antigo Museu Ferroviário da cidade. Todas elas já fazem parte de um inventário e estão no casarão do Bairro Floresta. “Temos equipamentos de locomotiva, de escritório, das estações, sinos, relógios e até um estudo da estação de Belo Horizonte em aquarela, de 1896”, conta Lúcio Wagner Valente, coordenador do inventário das peças.

    Quanto ao estado do casarão-sede, o superintendente do Iphan em Minas Gerais, Leonardo Barreto, diz que é necessário fazer obras estruturais: “Há problemas no telhado e no madeiramento”. Com as obras e os projetos para o novo Centro, a rotina do antigo casarão vai mudar, mas os amantes do ferreomodelismo podem ficar tranquilos: o primeiro andar continuará sendo o ponto de encontro dos minitrens.