É pra ver, não pra comer

Angélica Fontella

  • Réplica de um forno a lenha que Sérgio fez questão de reproduzir para que as crianças de hoje conhecessem o equipamento. (Foto: divulgação)Um químico especializado em alimentos e uma comunicóloga dedicada à pintura, cerâmica, decoração, escultura e ao artesanato firmaram há 43 anos um casamento perfeito, em todos os sentidos. O campineiro Sérgio de Souza Costa e sua esposa, a paulistana Rosa Cristina Azevedo S. Costa, dividem, além da vida pessoal, diversas atividades profissionais, que culminaram na criação do Museu da Gastronomia Brasileira, em 2008. 
     
    “Já fizemos muita coisa. Tivemos loja de congelados, trabalhamos com testes de alimentos e de utensílios para micro-ondas. Já lidamos com o produto real, sabemos onde queima o frango e qual a cor da carne assada”, justifica Sérgio. Há 14 anos o casal está à frente da empresa Fashion Cook, especializada em réplicas alimentícias para restaurantes. Quando observaram a curiosidade das pessoas sobre comidas típicas, tiveram a ideia: “Queríamos divulgar os pratos brasileiros e achamos que gastronomia é também educação”, lembra. Por enquanto o museu ocupa uma sala da empresa e não está adaptado para visitações. Os custos para implantação de uma sede seriam de 900 mil reais e mais 30 mil para manutenção mensal. Enquanto correm atrás de financiamento, eles apresentam o acervo em exposições itinerantes.
     
    Segundo cadastros da Federação de Amigos dos Museus do Brasil (Feambra) e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), este é o único museu com réplicas alimentícias do país. Para Sérgio Costa, é o único do mundo. Salvador conta com o Museu da Gastronomia Baiana, apoiado pelo Senac, com duas salas pequenas, um restaurante-escola e uma livraria temática. A diferença é que, como nos museus internacionais, são apresentados textos, imagens e utensílios, mas não réplicas. 
     
    Os pratos tradicionais brasileiros não deixam dúvida da verossimilhança do trabalho do casal. (Foto: divulgação)Como se faria uma réplica de vatapá, por exemplo? “Estamos desenvolvendo essa técnica há 14 anos e não passamos para ninguém, nem para a família!”, orgulha-se Sérgio. É Rosa Cristina quem prepara as réplicas com a ajuda de cinco funcionárias da empresa do casal. As mock-ups são feitas com cerâmicas dos lugares de origem dos pratos. Para Vitória (ES), uma cerâmica mais escura, para os pratos mineiros pedra sabão. Hoje o museu conta com 150 pratos, entre doces e salgados, além de um fogão a lenha (também em réplica). Expõe em feiras, universidades, mercados municipais e onde mais forem chamados.
     
    Mock ups, como as de Sérgio e Cristina, têm aplicações que vão além do marketing e do turismo. A nutricionista clínica Daniela Passos lembra que maquetes de alimentos saudáveis podem ser instrumentos importantes na educação alimentar de crianças. “Um prato de frutas ou de uma refeição saudável pode ser apresentado às crianças que, uma vez familiarizadas com aquilo, oferecem menos resistência na hora de provar”.