Educação na rede

Angélica Fontella

  • Sócios da Thydêwá e bolsistas se reúnem pela primeira vez, em setembro de 2011, na Bahia, para a construção colaborativa do projeto. De pé, com um cachimbo nas mãos, o pajé Atiã Pankararu (também sócio da ONG) pede ao grande espírito Tupã que abençoe os trabalhos. (Imagem: Divulgação)Índio anda nu? Índio come gente? Índio mora em oca? Para desmitificar estas e outras perguntas, há quatro anos surgiu o site colaborativo Índio Educa. Idealizada pela organização não governamental baiana Thydêwá, a rede alcançou grande sucesso logo que foi lançada, em setembro de 2011: nove meses depois, somava 349 mil visitas. Hoje, disponibiliza mais de 220 matérias e já provocou 1.305 interações em forma de fórum.
     
    A ideia surgiu no bojo da Lei federal nº 11.645 (2008), que tornou obrigatório o estudo de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena na rede nacional de ensino. Sua concepção seguiu essa linha: seria um portal de subsídio para alunos e professores abordarem a história e as culturas indígenas e contaria com quatro bolsistas universitários indígenas. Mas “quando divulgamos o edital, 70 se inscreveram! Selecionamos seis, de etnias diferentes e de várias regiões do Brasil e junto com eles redesenhamos o projeto”, conta Sebastian Gerlic, presidente da Thydêwá.
     
    Formou-se então “um grupo de pessoas que luta contra a discriminação étnica a partir da criação de uma plataforma de diálogo intercultural, onde indígenas de todo o Brasil partilham seus sentimentos, visões e opiniões sobre tudo, especialmente sobre os preconceitos que ainda se apresentam na sociedade brasileira”, explica Gerlic.
     
    Quando soube do edital, Yolly Sabrina Marques de Almeida Lima, do povo Taurepang (da fronteira entre Roraima e Venezuela), logo decidiu se inscrever. “Eu me interessei pela causa  e queria dar orgulho à minha comunidade, participando de algo que trouxesse benefícios”, conta a ex-bolsista, que permanece voluntariamente como uma das administradoras da página. “O trabalho é importante, não só por tudo que aprendemos nesses quatro anos, mas pelo que disseminamos sobre a cultura e a real história de nós, povos indígenas”, explica.
     
    “Índio Educa descortina a realidade indígena brasileira, nos tirando da invisibilidade, nos permitindo ocupar espaços, ter voz e, em muitos casos, diminuir preconceitos”, aponta Maria das Dores de Oliveira, coordenadora voluntária do projeto. Natural de Tacaratu (PE) e conhecida como Maria Pankararu (em referência a seu povo), ela é doutora em Linguística pela Universidade Federal de Alagoas e professora da Fundação Nacional do Índio.
     
    Para Sebastian Gerlic, o espaço de debate que a página proporciona é fundamental: “A publicação de conteúdos caiu, mas não parou. Como as visitas ao site e os comentários de internautas também nunca pararam. Adoraríamos ter recursos para potencializar esse diálogo”. A iniciativa já contou com recursos do Ministério da Cultura e até de acordo internacional entre Brasil e Estados Unidos via ONG Brazil Foundation, mas por tempo limitado. A rede tem status de Recurso Educacional Aberto (produção educacional disponível para uso, aprimoramento, recombinação e distribuição) e tenta captar novos recursos.
     
    Saiba Mais
     
    Acesse o site Índio Educa: www.indioeduca.org.