Quem passa pela Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, já deve ter reparado na arte que cobre os tapumes da obra de restauração da Biblioteca Nacional. As cores, que contrastam com a fachada neoclássica e os tons austeros da Biblioteca, são resultado de uma parceria do gabinete da BN com a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. “A iniciativa surgiu da direção para que os tapumes ficassem integrados à paisagem urbana”, explica Angela Fatorelli, chefe de gabinete da Biblioteca Nacional.
Segundo ela, o objetivo é aproximar mais o público e se fazer perceber que o espaço de visitação da Biblioteca ainda está aberto, mesmo com as obras da fachada em andamento, que têm previsão de terminar em 10 meses. A opção de expor um tipo de arte tão contemporâneo quanto o grafite tem dado resultados. Durante o andamento do trabalho, muitas pessoas pararam para admirar e elogiar a obra dos artistas grafiteiros. “Recebemos muitos elogios”, explica o artista Warq da Rocinha. “Isso é bom, pois chama a atenção. Os tapumes dão a impressão de que a Biblioteca não está aberta para visitas”.
Foram selecionados quatro artistas, alunos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV): Warq da Rocinha, conhecido pelos anjos estilizados espalhados pela cidade; Joana Cesar, que conta histórias através de seu alfabeto misterioso; Srinijas, que mistura cor e letras indianas, e Marcio Bands, que usou uma cartela de cores fortes no tapume da BN – trabalhos que podem ser vistos pelas ruas da cidade. “Selecionamos artistas com trabalhos mais consolidados e que usavam o grafite como forma de expressão artística. A própria direção da Biblioteca demonstrou interesse em cobrir os tapumes com esse estilo”, explica Lucas Leuzinger, assistente da EAV.
Detalhes como o espaço reservado e a temática foram definidos durante as reuniões de preparação, ainda em março. Os artistas tiveram a oportunidade de conhecer a Biblioteca Nacional e a sua história, fato que marcou o trabalho nos tapumes. “Procurei trazer minhas impressões sobre a Biblioteca Nacional e minha admiração”, explica Joana, sobre a história codificada nos tapumes da BN.
Para Bands, a união entre a arquitetura da Biblioteca e a arte do grafite só tem a acrescentar à paisagem e ao lugar. “Estamos nesse espaço, sabemos que o grafite é uma arte efêmera, é a característica dessa manifestação. É uma oportunidade interessante, um reconhecimento das novas tendências de arte, das intervenções urbanas, um lugar perfeito, porque era um espaço que não estava sendo ocupado artisticamente, além de valorizar a arte de rua”, conclui.
Encontro de tempos
Fernanda Távora