Entrevista com Vera Tostes

Cristina Romanelli

  • O Museu Histórico Nacional (MHN), no Centro do Rio de Janeiro, completa 90 anos este mês e apresenta, até 15 de outubro, uma exposição especial lembrando seu percurso desde 1922. A instituição tem a guarda de 67% de todo o patrimônio museológico do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), do Ministério da Cultura, e é o primeiro grande museu de História do país. Vera Tostes, diretora do MHN há 18 anos, fala sobre as principais mudanças e os motivos de comemoração.
     

    Revista de História Como serão comemorados os 90 anos do MHN?

    Vera Tostes: Vamos inaugurar uma exposição nas galerias da Casa do Trem, as primeiras que foram abertas em 1922. A exposição vai contar a história do MHN, terá uma sala com fotografias de todos os funcionários que passaram por aqui e uma biblioteca virtual, com as nossas publicações desde 1940, todas já na Internet. Vamos exibir o primeiro objeto doado em 1922, com a carta de doação: um uniforme militar de meados do século XIX que pertencia ao barão de Pontal. Fora isso, os 90 anos do museu também estarão em destaque no seminário internacional que acontece anualmente na primeira semana de outubro.
     

    RH Quais foram as principais mudanças ocorridas nesses 90 anos?

    VT: Um dos fatos que temos para comemorar é a retomada da produção científica. Quando assumi, em 1994, a publicação de anais estava parada havia 20 anos. Voltamos a publicá-los em 1995 e estamos planejando duas edições anuais a partir de 2013. Também passamos a fazer seminários internacionais e aumentamos as parcerias com universidades. Outro fato importante é a grande reforma da edificação, entre 2003 e 2006, quando recuperamos o traçado original do antigo Arsenal de Guerra, mas adequando-o aos dias de hoje.
     

    RH Houve alterações no acervo?

    VT: Agora temos algumas peças diferentes, como uniformes e brinquedos, o que fez o número de doadores aumentar e chegar a 80 por ano. Este é justamente o terceiro fato que temos que comemorar: a retomada da confiança do cidadão na instituição pública. Grande parte da coleção do museu foi formada por doações, mas as pessoas começaram a achar que os museus não conservariam bem as peças. Isso só mudou nos anos 1990, quando fomos atrás de complementações das coleções, e os cidadãos também começaram a nos procurar espontaneamente.
     

    RH Como era o acervo do MHN nos primeiros anos?

    VT: O primeiro diretor, Gustavo Barroso, foi atrás de famílias e de instituições para formar o acervo. Todas as peças eram das elites política, militar e religiosa da época. A coleção tinha moedas, armas, uniformes militares, móveis, condecorações... Isso só se alterou com a mudança da própria historiografia, que nos anos 1960 começou a se voltar mais para o lado social.
     

    RH Em que contexto o MHN foi criado?

    VT: Em 1922 foi derrubado o Morro do Castelo, no Centro do Rio de Janeiro. No entorno, apenas a Santa Casa de Misericórdia e o Arsenal de Guerra ficaram de pé. Isso fez com que intelectuais e jornalistas acusassem o governo de querer acabar com a memória desse trecho da cidade. Para contornar a situação, o presidente Epitácio Pessoa determinou que o arsenal abrigasse o “Pavilhão das Grandes Indústrias” durante a Exposição do Centenário da Independência, no mesmo ano. O MHN ocupava duas salas do arsenal durante a exposição. Com o tempo, ele passou a ocupar outros espaços e se espalhou por todo o prédio. 

     

    Saiba Mais

    “Museu Histórico Nacional: 90 anos”: de 2 de agosto a 15 de outubro

    Praça Marechal Âncora, s/nº, próximo à Praça XV, Centro – Rio de Janeiro