Escolha a atração!

Lia Jordão

  • Quem nunca se perdeu entre as salas de uma exposição ou ficou indeciso diante das muitas alternativas oferecidas em uma grande festa? Na Exposição Nacional de 1908, problemas como esses poderiam ser evitados com uma consulta ao Guia Prático de Visitantes da Exposição Nacional de 1908, hoje encontrado na Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional. Em suas trinta páginas constam as principais informações para os visitantes – cariocas, gente de várias regiões do Brasil e estrangeiros, ilustres ou não – aproveitarem todas as atrações da Exposição sem contratempos. E não só isso. O Guia também tinha a preocupação de reforçar o objetivo simbólico do evento: mostrar ao mundo o estágio de progresso e civilização alcançado pelo Brasil nos últimos cem anos, seguindo o exemplo das exposições universais que ocorriam em diversos países desde 1851. Milhares de pessoas compareceram à grande festa.

    Organizada para comemorar o primeiro “centenário da assinatura do decreto que abriu os portos do Brasil ao comércio de todas as nações amigas”, a Exposição Nacional de 1908 foi realizada no Rio de Janeiro, a moderna capital remodelada por Pereira Passos. Aos pés do Morro da Urca, antes mesmo do aterro que deu origem ao bairro do mesmo nome, foram erguidos, em prazo curtíssimo, prédios e pavilhões “de proporções colossais e luxo”. Com isso, além de celebrar o centenário da abertura dos portos, o evento pretendia mostrar o progresso econômico do Brasil nos diferentes ramos da produção: agricultura, indústria, pecuária.

    A bela capa colorida do Guia merece atenção. Sobre uma vista aérea da Exposição aparecem duas figuras alegóricas, uma voltada para a outra: à esquerda, a representação do Império português, empunhando a espada com a data de 1808, ano de assinatura da famosa carta régia, “fato primordial e máximo da nossa história, e verdadeiro início do progresso brasileiro”. À direita, uma figura feminina, representando a República, segura uma guirlanda datada de 1908.

    Como conhecer as maravilhas da exposição? O Guia informa que os visitantes poderiam chegar ao local, nos “arrabaldes da cidade”, em uma das barcas da Companhia Cantareira que partiam do Cais Pharoux (na Praça XV) em intervalos de 40 minutos. Outra opção seria pegar um bond de linha regular com destino à Escola Militar ou um dos vários bonds extraordinários que circulavam pela cidade com o letreiro “Exposição”.

    Depois da passagem pela “Porta Monumental”, eram muitas as atrações. Uma planta da exposição orientava os visitantes. Eles eram convidados a passear pelo Palácio das Indústrias – revelador das proporções da nossa “atividade industrial”, expressão maior do progresso e da civilização –, pelos diversos pavilhões dos estados e de instituições como o Corpo de Bombeiros e os Correios e Telégrafos, além do Pavilhão Manuelino, de Portugal – único representante de outra nacionalidade na exposição –, cujas fotos podem ser vistas no Guia.                                                                                                                                     
    Como nem só de trabalho vive o homem moderno e civilizado, o lazer também tem espaço no programa. O visitante poderia conhecer o Theatro da Exposição, ótima oportunidade para ver ao vivo as maiores estrelas da época. O Cinematographo da Empreza de Paschoal Segreto também era uma boa opção. Com programação variada, incluindo cinema brasileiro, tinha sessões a partir de uma hora da tarde.

    As crianças não foram esquecidas. Na “grande área que fica entre o Palácio das Indústrias e o Miramar, encontrarão as crianças, a partir de 1 hora da tarde, as seguintes diversões: Estrada de Ferro Liliputiana, Montanhas Russas, Balanços Higiênicos, Palácio das Ilusões, Carroussel, Fios Aéreos, Pesca Milagrosa e Palácio da Sorte”.

    Para repor as energias, o Guia sugere duas opções de alimentação dentre os vários bares e cervejarias distribuídos pelo recinto: o Restaurant Rústico – cuja fotografia revela ao fundo o Pão de Açúcar ainda sem o bondinho (idealizado durante a Exposição) – e o Restaurant Pão de Assucar, conhecido também por “Restaurant de Luxo”. Como o lazer leva às compras, o Guia traz vários anúncios de empresas, produtos e stands. Por eles, é possível saber que “os visitantes smarts só usam chapéus da Casa Leiva”, ou que estão sendo distribuídas amostras grátis de “Leite Maltado Horlick’s, reconhecido como o melhor alimento por todos os médicos”.

    Por fim, o visitante podia ficar descansado quanto à possibilidade de ser surpreendido por intempéries: a última página tem uma curiosa tabela de códigos numerados de “previsão do tempo na Exposição”, dividida em: “1 – tempo bom”, “2 – tempo mau” e “3 – tempo instável”, e tendências de variações climáticas (“tendência a melhorar”, “tendência a piorar”). Era preciso torcer apenas para que não se confirmasse a previsão “3.2 – O estado do tempo que não é firme, sendo ora mau, ora incerto, ora bom, sem mostrar tendência alguma”. Com o sucesso da Exposição Nacional, a Urca inaugurava a sua vocação para sediar festas memoráveis. Teria surgido ali o embrião das nossas famosas “Noites Cariocas”?