Milhares de tesouros se escondem acima e abaixo da terra no bairro do Recife, onde a capital pernambucana começou a surgir, ainda no século XVI. Desde a década de 1990, diversas iniciativas tentam revitalizar a região, negligenciada por muitos anos. A próxima novidade será a inauguração de um espaço Caixa Cultural, até o fim deste mês, em um prédio tombado na Praça do Marco Zero. Os visitantes poderão ver, através de um piso de vidro, arqueólogos trabalhando com peças da época da ocupação holandesa (1630-1654) encontradas no terreno. Dois espaços semelhantes serão inaugurados em Fortaleza, em abril, e em Porto Alegre, ainda sem previsão, mas só Pernambuco terá a atração arqueológica.
Segundo Frederico Faria Neves Almeida, superintendente do Iphan em Pernambuco, os achados têm sido comuns no bairro do Recife, e quase todos pertencem à época da ocupação holandesa. São cachimbos, louças de porcelana, ossos e ruínas de antigos sobrados. As peças estão sendo catalogadas e identificadas, e serão expostas posteriormente na Caixa Cultural. Enquanto isso não acontece, os visitantes podem conhecer o teatro, as salas de oficina e dança, a cobertura, as quatro salas de exposições temporárias e o museu, que terá mostras do acervo do banco. “Temos documentos, maquinário... E obras de arte de nomes como Di Cavalcanti, Portinari, Tarsila do Amaral e Volpi”, conta o gerente de marketing cultural da Caixa, Gustavo Pacheco.
A própria restauração do prédio é um atrativo, já que algumas partes foram reconstruídas e as fachadas recuperaram suas cores originais. O Edifício Arnaldo Dubeux foi construído em 1912 para abrigar o BankofLondon &SouthAmericaLimited, sociedade bancária inglesa. Em 1997 passou a funcionar como Bolsa de Valores de Pernambuco e da Paraíba, mas ficou fechado nos últimos anos, até ser comprado pela Caixa. “Este prédio é um dos 24 imóveis de destaque na região, e era o único dos quatro prédios em frente ao Marco Zero que ainda não havia sido restaurado. Estava degradado, descaracterizado. Essa mudança vai valorizar a revitalização do bairro”, explica o superintendente do Iphan.
O mesmo tipo de trabalho foi feito no futuro espaço Caixa Cultural em Fortaleza, no edifício da antiga Alfândega, de 1891. Já Porto Alegre tem uma pedra no meio do caminho, literalmente. “Uma rocha foi encontrada na escavação estrutural, então temos que avaliar como continuar os trabalhos sem abalar os prédios vizinhos. Por isso não temos prazo de inauguração”, afirma Pacheco. O Edifício Imperial fica em frente à Praça da Alfândega, no centro histórico da capital gaúcha. Inaugurado na década de 1930, o prédio em art déco abrigava salas de cinema, desativadas há muitos anos. Em breve, quando a rocha for removida, o espaço voltará a exibir filmes, e Porto Alegre, assim como as outras duas cidades, terá parte de sua história recuperada.
Espaço antigo, vida nova
Cristina Romanelli