Espetáculo da cana

Cristina Romanelli

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    Produção de açúcar no Nordeste inspira grupo de teatro

     

    Música, dança, religiosidade e muita comida dão as boas-vindas ao início da moagem da cana-de-açúcar, na festa conhecida no Nordeste como “botada”. As cores e os aromas da cerimônia atraem pessoas próximas ao ciclo da cana, estudiosos e até um grupo de teatro de São Paulo. O universo nordestino, principalmente o pernambucano, tem marcado presença nas montagens do grupo Os Fofos Encenam, com as peças “Memória da Cana”, “Assombrações do Recife Velho” e “Pentateuco”, que estreia em 2012.

    Antes de criar as montagens, o grupo mergulha na História. Já começaram, por exemplo, os preparativos para a peça “Pentateuco”, que vai relacionar os cinco primeiros livros do Antigo Testamento à exploração da cana ao longo dos séculos. Os atores viajaram por Pernambuco e pelo interior de São Paulo visitando engenhos, usinas e canaviais. “Conversamos com cortadores, famílias, cooperativas de cana, imigrantes nordestinos que vêm trabalhar em São Paulo... Fomos na época de São João, então presenciamos muito das festividades e da religiosidade”, conta o dramaturgo Newton Moreno.

    Também foram organizadas palestras abertas ao público sobre a cultura canavieira e a civilização do açúcar. Em Pernambuco, a responsável foi a antropóloga Fátima Quintas, autora de A saga do açúcar (Fundação Gilberto Freyre, 2010). “Falamos sobre os aspectos sociais, antropológicos, os rituais de europeus, judeus e índios. Também sobre a vida privada na casa-grande e a licenciosidade do senhor de engenho com as negras. Muitos guias turísticos e pessoas que trabalhavam com a cana foram assistir e participaram”, lembra Fátima.

    Além disso, a equipe leu alguns livros que tratam da Inquisição, da presença dos judeus no plantio da cana nos séculos XVI e XVII, da escravidão e das festividades. “A ideia desse trabalho começou com a peça ‘Memória da Cana’, que é uma adaptação de “Álbum de Família”, de Nelson Rodrigues, com referências a Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre. A partir daí, resolvemos seguir com o tema”, diz Moreno. Atualmente, está em cartaz a peça “Assombrações do Recife Velho”, adaptação do livro homônimo de Freyre. A peça será apresentada até dezembro, quando o grupo mergulha de vez no projeto Pentateuco.

     

    Saiba Mais

    www.osfofosencenam.com.br

    Espaço dos Fofos: Rua Adoniran Barbosa, 151, Bela Vista – São Paulo.