Esqueceram de mim

Cristina Romanelli

  • A revista Para Todos e O Malho tiveram várias edições da década de 1920 recuperadas, e agora podem ser visualizadas na internet.Sabe aquele jornal do dia anterior que vira embrulho do peixe da feira? Ele e mais um monte de papéis em que muita gente não presta atenção, como embalagens e rótulos, são fontes de pesquisa valiosas. O problema é que não são produzidos para durar tanto quanto um livro, e acabam se decompondo. O portal Memória Gráfica Brasileira está tentando resgatar esses documentos perdidos. Em julho, serão divulgadas no site as imagens captadas para o livro Impresso no Brasil, 1808-1930: Destaques da história gráfica no acervo da Biblioteca Nacional (Verso Brasil Editora, 2009), organizado pelo historiador de arte Rafael Cardoso. Além disso, já estão acessíveis 58 mil páginas das revistas O Malho e Para Todos publicadas entre 1922 e 1930.

    Apesar de serem um retrato dos costumes da época, as duas revistas também fazem parte do “clube dos esquecidos”. Impressas em papel mais frágil, elas não conseguem continuar no mesmo estado com o manuseio frequente de pesquisadores. Foi pensando nisso que a designer gráfica Julieta Sobral e o caricaturista Cássio Loredano resolveram digitalizar as duas semanais dirigidas pelo ilustrador José Carlos de Brito e Cunha (1884-1950), mais conhecido como J. Carlos. “Ele foi o maior caricaturista do século XX. Acho que fez mais de 100 mil desenhos. E corríamos o risco de perder parte disso”, diz Loredano.

    A Fundação Biblioteca Nacional e a família de J. Carlos emprestaram as revistas que foram digitalizadas. Todos os exemplares agora podem ser vistos, página por página, nos sites memoriagraficabrasileira.org e bndigital.bn.br. E sem o manuseio dos originais, que é o mais importante. A partir desse material, também foram publicados dois livros: O desenhista invisível e O vidente míope. No primeiro, Julieta aborda o trabalho de J. Carlos como designer gráfico, que é menos conhecido. Já o último, organizado por Loredano, mostra a crônica visual do ilustrador no período.

    Julieta coordena o portal com o apoio de uma equipe de designers e do historiador Rafael Cardoso. Ele organizou o livro sobre a história dos primeiros impressos nacionais, que terá as ilustrações publicadas no portal em julho. Todas as imagens dessa publicação fazem parte do acervo da BN, e a maioria delas é inédita ou pouco conhecida, como o cardápio do famoso baile da Ilha Fiscal. “Vamos continuar colocando material dos séculos XIX e XX. Principalmente essas coisas para as quais as pessoas não dão muita bola, como embalagens e rótulos”, brinca a coordenadora.