Fabricados no Brasil

Alice Melo

  • Em 1948, três anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, começou a circular em São Paulo o Diário Nipak. O jornal, editado por japoneses, se dizia atrelado à corrente ideológica que aceitava a derrota nipônica no conflito – nem todos os japoneses acreditavam na derrota. Assim como o Nipak, muitos outros periódicos criados por imigrantes foram publicados no Brasil, e não só nessa época. A imprensa imigrante acompanha toda a trajetória dos estrangeiros no país desde o final do século XIX. Afinal, foi uma forma encontrada por essas comunidades para construir uma identidade coletiva. Hoje estes documentos estão armazenados em arquivos de todo o Brasil, e, apesar de sua relevância histórica, permanecem mais nas prateleiras do que em mãos de estudiosos e curiosos. Mas por pouco tempo. Ações desenvolvidas por algumas dessas instituições vêm ampliando o interesse pela imprensa imigrante.

    Um exemplo é a exposição “Babelemtinta epapel”, organizada pela Biblioteca Nacional, que exibe cerca de 20 títulos de periódicos editados por imigrantes ou seus descendentes ao longo do século passado. Entre eles estão o Nipak, um exemplar de 1910 do italiano Gazzetta delle Signore e o alemão Der Urwaldsbote (ou“Mensageiro da floresta”), de 1909.“Provavelmente pelo fato de serem escritos em outra língua, são pouco pesquisados”, explica Bruno Brasil, pesquisador da Divisão de Periódicos. Ele também afirma que a baixa procura fez com que parte do acervo fosse transferida para o prédio anexo da BN a fim de que se liberasse mais espaço para as publicações nacionais.

    Em São Paulo, a situação é um pouco diferente da do Rio de Janeiro.  Como o estado foi o que mais recebeu imigrantes até a década de 1970, a procura por periódicos publicados em línguas estrangeiras é maior. Carlos Bacellar, coordenador do Arquivo Público do Estado de São Paulo (Apesp), diz que não se pode comparar a consulta de periódicos brasileiros com a pesquisa em jornais da imprensa imigrante na instituição, mas a procura por este tipo de material cresce a cada dia – principalmente depois de iniciada a política de divulgação do acervo na Internet. Recentemente, o Apesp criou uma página na web dedicada à imigração em São Paulo, que inclui alguns títulos digitalizados deste tipo de imprensa. “A resposta é muito positiva. A pessoa pode folhear o jornal ou a revista da sua própria casa”, explica Bacellar.

    A historiadora Esther Bertoletti, ex-coordernadora do Projeto Resgate, do Ministério da Cultura, já utilizou esta documentação e aprova a iniciativa de se divulgar a imprensa imigrante na Internet, já que “de uns anos para cá, as pesquisas sobre o tema vêm crescendo, sobretudo as relacionadas às histórias das famílias”. E a consulta a periódicos editados por comunidades estrangeiras à distância facilita os estudos, que são feitos, em grande parte, por descendentes em busca das origens de seus antepassados.

     

     

    “Babel em tinta e papel” fica em cartaz no 2° andar da BN até janeiro. Endereço: Av. Rio Branco 219, Centro – Rio de Janeiro.

    Para consultar jornais digitalizados -- da imprensa imigrante ou não -- uma opção é pesquisar no site da BN, Rede da Memória Virtual, ou também no portal Memória da Imprensa, do Arquivo Público do Estado de São Paulo.