Muita gente que vai a Recife só quer saber de praia e água de coco. Mas basta se afastar 14 quilômetros do centro, até o bairro da Várzea, para encontrar outro mundo, com capela, jardins, praças, salas de exposição e obras de arte por todos os lados. Tudo isso faz parte da Oficina Cerâmica Francisco Brennand, que completa 40 anos em 2011. O passeio pelo lugar surpreende, mas é só atravessar o Rio Capibaribe para se ficar ainda mais abestalhado. Ali está o Instituto Ricardo Brennand, formado por um castelo no estilo gótico, pinacoteca, jardins, parque de esculturas e uma coleção de obras de arte produzidas desde o século XV. Os dois Brennand são primos, e Ricardo já tem planos para o próximo ano: vai abrir a biblioteca do instituto ao público e inaugurar um espaço para exposições itinerantes.
A família sempre foi formada por empresários, alguns deles com interesse especial pela arte. Um exemplo é o pai de Francisco, que o incentivou a se tornar artista. A oficina em Recife está sendo construída aos poucos desde 1971, no mesmo lugar onde ficava uma antiga fábrica do patriarca. “Toda a reforma foi pautada nas ruínas da fábrica. Francisco diz que ele mesmo quis conduzir o projeto para conservar o lugar de sua infância”, conta Marinez Teixeira, bibliotecária do local.
O espaço tem 15 mil metros quadrados de área, e é quase todo decorado com cerâmica queimada em alta temperatura. O material se tornou uma marca do artista, assim como as peças de formatos originais, e muitas vezes fálicos. Na oficina, é possível ver cerca de quatro mil obras, todas feitas por Francisco. Algumas peças dele também estão no Instituto Ricardo Brennand, mas são poucas. O forte do vizinho é o acervo que vem dos quatro cantos do planeta. Ali estão a maior coleção particular de pinturas do holandês Frans Post e um conjunto de mais de 50 armaduras. Tem uma até para cachorro.
Reza a lenda que Ricardo Brennand começou sua coleção aos 12 anos, quando ganhou um canivete do pai. Hoje já tem o maior acervo particular de armas brancas do mundo, com facas, lanças e até a espada de ouro e pedras preciosas do rei Faruk, deposto em 1952, quando a república foi proclamada no Egito. “Ele construiu o castelo para armazenar isso tudo, e só abriu para o público em 2002. Ainda estamos finalizando a catalogação das obras e fazendo mudanças por aqui”, explica Hugo Vieira, pesquisador do instituto.
Com a abertura da biblioteca, o público poderá consultar o acervo de mais de 50 mil volumes, incluindo uma grande coleção sobre História, principalmente do Brasil holandês. Muitas obras são raras, como Historia naturalis Brasiliae, o primeiro estudo da fauna e da flora do país, patrocinado pelo conde João Maurício de Nassau a partir de 1647. Outra mudança possível é a criação de um circuito cultural pelo bairro da Várzea. Se sair só dos planos, o circuito pode desfazer o rolo na cabeça de alguns recifenses, que, mesmo morando ali ao lado, têm dificuldade para diferenciar um Brennand do outro.
Saiba mais:
Oficina Brennand: Propriedade Santos Cosme e Damião, s/n – Várzea. De segunda a quinta, das 8h às 17h, e sextas, das 8h às 16h.
Instituto Ricardo Brennand: Alameda Antônio Brennand, São João – Várzea. De terça a domingo, das 13h às 17h.
Família arretada
Cristina Romanelli