O filme “Chico Xavier”, de Daniel Filho, foi um sucesso de público logo no primeiro fim de semana de exibição, em abril: mais de 590 mil pessoas foram aos cinemas em três dias. Mal ele entrou em cartaz, outro longa-metragem sobre espiritismo já está para ser lançando: “Nosso lar”, de Wagner de Assis. Baseado no livro homônimo do mineiro Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier (1910-2002), tem estreia prevista para setembro.
Mas o médium não está representado apenas nas telonas. Livrarias exibem títulos sobre ele. Nas estantes, os leitores encontram até "Chico Xavier em Quadrinhos" (Ediouro). Chegou a ser lançado o livro "Chico Xavier, a história do filme de Daniel Filho" (Leya), uma espécie de making of do longa-metragem que já encabeça a lista dos mais vendidos. O autor, Marcel Souto Maior, é o mesmo que assina a biografia "As vidas de Chico Xavier", que deu origem ao filme. Os DVDs também não ficam atrás. “Pinga-fogo com Chico Xavier” e “Chico Xavier inédito” são alguns dos que estão nas prateleiras.
A profusão de lançamentos relacionados ao tema é motivada pelos 100 anos que ele completaria este ano. Mas não é só isso que explica esse interesse todo. Pesquisas sobre o espiritismo no Brasil confirmam que este é um tema que caiu no gosto dos brasileiros ainda no início do século XIX [Ver RHBN nº 33]. As notícias sobre espíritas no país começaram a surgir na década de 1860. Nessa época foram feitas as primeiras traduções das obras de Allan Kardec (1804-1869), organizador da doutrina. Os médicos Joaquim Carlos Travassos (1839-1915) e Adolfo Bezerra de Menezes (1830-1900) foram alguns dos tradutores. Aliás, Menezes chegou a inspirar outro filme, também sucesso de público em 2008: “Bezerra de Menezes, o diário de um espírito”, de Joe Pimentel e Glauber Filho.
Quando Chico Xavier publicou o livro Parnaso de além túmulo em 1932, a psiquiatria considerava os médiuns doentes mentais. Mas seu carisma e suas publicações foram mudando essa imagem – ao todo, foram 451 livros psicografados e mais de 20 milhões de exemplares vendidos.
Para o historiador Artur Cesar Isaia, da Universidade Federal de Santa Catarina, a aceitação do espírita não está ligada apenas ao sucesso editorial. “Muito antes do fenômeno Chico Xavier, já havia no Brasil um caldo de cultura propício, valorizador do contato entre vivos e mortos. Alguns autores, como Bernardo Lewgoy e Sandra Stoll, destacam a extrema familiaridade de sua figura com valores próximos da santidade católica que contribuíram para uma biografia marcada pela renúncia aos bens materiais, pelo celibato e pela assistência social”, diz Isaia.
Enquanto pesquisadores e cineastas se dedicam cada vez mais ao tema, o espiritismo ganha força no país. De acordo com o IBGE, cerca de 2,3 milhões de pessoas (1,3% dos brasileiros) são adeptas da doutrina.
Leia a íntegra da entrevista do historiador Artur Cesar Isaia em www.rhbn.com.br/chicoxavier
Fenômeno eterno
Vivi Fernandes de Lima