Mata Atlântica, Pantanal, cerrado. A diversidade de ecossistemas brasileiros sempre foi motivo de orgulho. E não é à toa: o país tem o segundo maior número de espécies de plantas do mundo, só ficando atrás da China. Estudar essas plantas, no entanto, é uma tarefa difícil. O único catálogo que reúne toda a flora nacional teve suas informações coletadas no início do século XIX e dispõe de poucos exemplares. Para sorte dos botânicos das próximas gerações, as dez mil páginas de texto e 3.811 pranchas de desenhos da Flora Brasiliensis foram digitalizadas e estão disponíveis na Internet. A boa notícia não acaba aí: uma nova lista, com as 37 mil espécies conhecidas hoje, também já pode ser acessada na rede e será atualizada anualmente.
A Flora Brasiliensis é o resultado do trabalho de mais de 60 pesquisadores e artistas europeus que participaram da Missão Austríaca no Brasil. De todos os integrantes, foi o botânico alemão Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) quem teve mais destaque. Ele participou da expedição que percorreu dez mil quilômetros entre 1817 e 1820 e foi o primeiro editor da obra, só finalizada em 1906, bem depois de sua morte. “Mesmo concluída há mais de um século, a Flora ainda é muito usada. É o único levantamento dessa grandeza, e alguns grupos de plantas só estão descritos ali”, diz George Shepherd, professor de Biologia Vegetal da Unicamp e um dos coordenadores do projeto.
A obra foi toda digitalizada pelo Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos, que tinha os equipamentos necessários e uma cópia mais bem conservada da Flora. Além de digitalizar os 15 volumes, a ideia era atualizar a nomenclatura das plantas. Para não alterar as informações, a equipe da Unicamp achou melhor criar uma lista só com os nomes das espécies. O Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria) desenvolveu então um sistema participativo, em que 413 especialistas puderam fazer a revisão dos dados. “Antes havia listas regionais, estaduais. A nova compila tudo o que existe de plantas no país, mas é mais simples do que a Flora porque não descreve, só enumera as espécies”, explica Dora Canhos, diretora do Cria.
A lista foi lançada em setembro e será atualizada anualmente. A grande vantagem é justamente ter cerca de 13 mil espécies a mais que a Flora Brasiliensis, que reúne 22 mil registros. “Novas plantas estão sendo descobertas regularmente. A Amazônia ainda é muito mal coletada, e estamos encontrando muita coisa até no estado de São Paulo”, diz Shepherd. Além de buscar e registrar novas espécies, os pesquisadores terão muito mais trabalho pela frente. Há planos para mesclar o material da Flora Brasiliensis, incluindo as pranchas de desenhos, com a lista atual. Ainda vai demorar, mas com a nova Flora atualizada, talvez o Brasil ultrapasse a China com estilo e seja o líder no número de espécies de plantas.
Saiba mais:
A Flora Brasiliensis está na página http://florabrasiliensis.cria.org.br. Já a nova lista de espécies pode ser acessada no endereço http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2010.
No Parque da Serra dos Órgãos (RJ), há uma exposição com reproduções das gravuras, relatos da viagem e exemplares originais da Flora. Até maio de 2011. Rodovia Rio-Teresópolis (BR 116), km 98. Diariamente das 8h às 17h.
Gigante pela natureza
Cristina Romanelli