História submersa

Cristina Romanelli

  • A embarcação bandeirante conhecida como batelão foi resgatada há dois meses em um ribeirão na cidade de Porto Feliz.A cidade de Porto Feliz, a 130 quilômetros de São Paulo, ficou conhecida nos séculos XVII e XVIII como principal ponto de saída de expedições fluviais bandeirantes. Eram as chamadas monções. Os viajantes enfrentavam corredeiras e ataques de índios durante cinco meses até Cuiabá, em Mato Grosso. Embora um dos objetivos tenha sido o povoamento da região, foi o ouro recém-descoberto que gerou tanta comoção. Este ano, porém, não foi preciso sair de Porto Feliz para se encontrar um tesouro. Uma embarcação do tempo dos bandeirantes, conhecida como batelão, emergiu no ribeirão Engenho D’Água, afluente do Rio Tietê. Ela vai ser restaurada, e no próximo ano fará parte do Museu das Monções, também na cidade.

    “O nível dos rios estava baixo, mas achamos que foi o rompimento de um dique, em um ribeirão mais acima, que revirou a água e revelou a embarcação”, explica Claudimir Causin, diretor de Cultura da cidade. Como era esperado, a notícia logo se espalhou e virou sensação. Para evitar que algum caçador de objetos antigos tentasse roubar a peça, a prefeitura tratou logo de chamar uma equipe para escavar a área e transportar a embarcação para um local mais seguro. O novo abrigo não é em uma casa ou depósito, mas embaixo d’água. Isso porque, segundo restauradores, o material poderia acabar se decompondo em contato com o ar.

    “Essa embarcação tem características iguais às dos batelões descritos em documentos. Se realmente for um batelão, essa descoberta vai ser muito significativa, pois só há mais um desses por aqui”, diz Jonas Soares de Souza, historiador que participou do “resgate”. O outro barco também está na cidade, no Parque das Monções, onde ficava o antigo porto. A diferença é o tamanho: o novo achado é um pouco menor, com 8,40 metros de comprimento e 1,3 metro de largura. Além disso, ele também não foi finalizado e talvez nunca tenha viajado. Mas os dois foram feitos com as mesmas técnicas indígenas artesanais. Os bandeirantes escavaram o tronco de uma árvore grande, como a peroba, e depois terminaram o trabalho com fogo e carvão.

    Segundo o diretor de Cultura da cidade, o batelão foi encontrado em uma área que pertence à Marinha. Por isso, especialistas da própria instituição irão analisá-lo a partir de agora. Depois, ele passará por um processo de restauro para ser finalmente exibido no Museu das Monções. Cecília Machado, diretora do Sistema Estadual de Museus de São Paulo, conta que o museu também está sendo restaurado, e no fim de 2011 deve se tornar um polo de pesquisa e difusão da história das monções. Além de uma nova cenografia, reserva técnica e exposição interativa, os pesquisadores encontrarão ali referências de todas as obras sobre o assunto. E o batelão, claro, será o centro das atenções.

    Saiba mais:

    O Museu das Monções ficará fechado até o fim das obras. O endereço é Praça Coronel Esmédio, s/n. De terça a sexta, das 9h às 16h30, e sábados e domingos, das 10h às 16h.