Humor com personalidade

Cristina Romanelli

  • Em um dos grandes – e frequentes – temporais que desabaram no Rio de Janeiro no final da década de 1950, com direito a enchente, um carro resolveu encarar o desafio. Pelo movimento da água, o desenhista Carlos Estevão (1921-1972), que voltava de viagem com a família, conseguiu acertar a localização de uma das pontes que cortavam o Rio Maracanã. Chegou ao outro lado, mas foi parado pelo Corpo de Bombeiros, antes que a audácia acabasse em desastre. Outras aventuras como esta e o trabalho do chargista, que teria feito 90 anos em setembro, serão lembrados em livro e exposição. As novidades chegam em 2012, quando também se completam 40 anos de sua morte.

    Estevão trabalhou na revista Diretrizes e no Diário da Noite, mas fez fama depois de alguns anos em O Cruzeiro, onde criou séries como “O casamento antes e depois”, “Ser mulher” e “As aparências enganam”. “Ele tratava de assuntos como o ‘inferno’ que era o casamento, um reflexo da vida real. Tinha personalidade muito forte e mostrava isso nos desenhos. Fazia piadas com nordestinos, negros, judeus... Era tudo bem pesado, mas aceito na época. Hoje ele não conseguiria publicar muita coisa”, afirma o jornalista Sandro Fortunato, que está escrevendo a biografia de Estevão.

    Antes de começar o livro, Fortunato fez várias entrevistas com a família e com colegas de trabalho do desenhista, muitos hoje já falecidos. Basta uma conversa rápida com uma das filhas de Estevão, Doris Elizabeth de Souza, para se perceber que não vai faltar história interessante para rechear as páginas. “Meu pai era muito intenso. Era conhecido pelas maluquices, como descer a estrada de Petrópolis para o Rio disputando corrida. Ele nunca foi muito dado a regras. Analisando hoje, acho que ele tinha que ser meio anárquico, meio solto, para formar aquela visão crítica que vemos nos desenhos”, conta ela.

    Doris está ajudando Fortunato a reunir, desde 2007, todo o acervo de Estevão, espalhado entre membros da família, coleções particulares e públicas. Já são cerca de 4.000 desenhos, incluindo originais. “Vamos digitalizar tudo. E eu ainda nem mexi na minha coleção de 800 exemplares da Cruzeiro”, diz Fortunato. Antes da publicação da biografia, os curiosos poderão ver o acervo de perto, em uma exposição que está sendo planejada para o próximo ano, mas ainda sem local definido. Para completar, o site dedicado ao chargista será alimentado com mais informações nos próximos meses. 

    Saiba Mais - Internet

    www.memoriaviva.com.br/carlosestevao/