Nos últimos anos, partes de setores das Forças Armadas têm se preocupado em tornar públicas suas versões sobre os anos em que os militares estiveram no poder desde o golpe – ou movimento revolucionário de 1964, como preferem dizer alguns deles. O resultado é o aumento do número de publicações que buscam mostrar o outro lado da moeda e explicar acontecimentos mais específicos ocorridos durante o período, como é o caso deste livro.
Sylvio Frota, ministro do Exército entre 1974 e 1977, período em que o presidente Ernesto Geisel (1974-1979) iniciou o projeto de abertura política, era apoiado pela chamada “linha dura” do Exército, contrária à abertura e que defendia sua candidatura à sucessão presidencial. O conflito entre as duas posições foi um dos momentos mais delicados do regime militar, que levou à exoneração de Frota em outubro de 1977. Geisel apoiava a candidatura de João Figueiredo.
Afastado da vida pública, Frota redigiu suas memórias sobre a crise na cúpula militar entre 1978 e 1980. Seu amigo, o general Adyr Fiúza de Castro, havia sugerido que ele só publicasse o livro postumamente, para evitar interpelações judiciais. Por iniciativa de seu filho, o texto vem agora a público, oito anos depois da morte de seu autor, em edição caprichada, com apresentação dos historiadores Celso Castro e Maria Celina D’Araújo, recheada de documentos inéditos – em sua maioria sigilosos – e fotografias. Trata-se de um importante documento histórico, e é assim que deve ser lido. Escrito no calor da hora, reproduz a versão do autor sobre os militares e a política, o comunismo, os governos militares, e oferece muitas informações sobre os bastidores do regime.
(Fabricio L. Alexandrino)
Ideais traídos
Sylvio Frota