Iphan tomba o Elevador Lacerda

Roberto Kaz

  • Em 1967, Jorge Amado publicou o livro Bahia Boa Terra Bahia, no qual dizia que em sua terra “tudo é misturado – anjos e exus, o barroco e o agreste, o branco e o negro.” A Bahia é, de fato, um palco de sincretismos. Na capital do estado, esse amálgama é ainda mais acentuado. Ao que parece, a única coisa que não se mistura é a topografia, marcada por dois níveis explicitamente separados: a Cidade Alta e a Cidade Baixa. Talvez por isso o Elevador Lacerda tenha se tornado um dos principais cartões-postais de Salvador.

    Em dezembro de 2006, o Conselho Consultivo do Iphan tombou o monumento que une as duas partes da capital baiana. O arquiteto Paulo Ormindo de Azevedo, membro do Conselho, diz que o Elevador Lacerda, por sua engenharia complexa, representa “uma afirmação corajosa do homem sobre a natureza, assim como o alargamento da Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, a Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, e o Masp, em São Paulo”.

    O desenho atual do Elevador Lacerda data de 1930, quando foi ampliado e remodelado, ganhando linhas art déco. Mas a construção é anterior: ele foi inaugurado em 1873 com o nome de Elevador Hidráulico da Conceição. Foi o engenheiro Antonio de Lacerda quem financiou a remodelação e, após sua morte, acabou rebatizando o monumento que, devido aos custos, o levara à falência.

  • Quando foi construído, o Elevador Lacerda era bastante diferente: não tinha ponte ou torre – apenas uma estrutura menos visível, encravada na rocha. No fim da década de 1920, decidiu-se pela ampliação. Em um ano foram erguidas a torre e a ponte de acesso, inauguradas em 1º de janeiro de 1930.

    Três anos antes, a Bahia recebera a visita do poeta italiano Marinetti, que trazia na bagagem o livro Arquitetura Futurista, de Antonio Sant’Elia. O livro pregava que “os elevadores não devem se manter como vermes solitários nos vãos das escadas, mas as escadas, tornadas inúteis, devem ser abolidas e os elevadores devem erguer-se como serpentes de ferro, de vidro, ao longo das fachadas”. Se estivessem vivos, Marinetti e Sant’Elia provavelmente aplaudiriam o tombamento.