O historiador Edgar Carone (1923-2003) colecionou milhares de títulos sobre o movimento operário e a história do Brasil republicano ao longo da vida. Autor de uma clássica série de seis livros sobre a República, Carone reuniu um rico acervo com mais de 26 mil livros, 28 fitas cassetes com entrevistas de depoimentos com personalidades da vida política brasileira, como Luiz Carlos Prestes e João Amazonas, centenas de títulos de periódicos, artigos de jornais, manifestos e trabalhos de alunos, documentos como correspondências pessoais e institucionais e fotografias, além de microfilmes de jornais, como Correio da Manhã, Vida Operária, O Syndicalista e O Homem Livre. Toda essa coleção, doada ao Museu Paulista, da USP, em agosto deste ano, será organizada e acomodada no próximo ano no Museu Republicano “Convenção de Itu”, que passa a ser sediado na Casa do Barão, antiga residência de Bento Dias de Almeida Prado, o Barão de Itaim, o primeiro a libertar mais de cem escravos antes da Lei Áurea, em 1888.
Para a diretora do museu, Eni de Mesquita Samara, a aquisição é importante para estudantes, professores e também para a cidade. “A Biblioteca Edgar Carone tornará Itu um centro de pesquisas do período republicano, principalmente em relação à primeira República”, afirma ela.
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Os movimentos operários no Brasil e no mundo ocuparam uma seção especial. Carone pesquisou o assunto em diversos países. Exemplares de periódicos brasileiros, como A Luta de Classe e Voz Cosmopolita foram microfilmados no Archivo Storico Del Movimento Operario Brasiliano, de Milão, na Itália. Quanto às publicações estrangeiras, o historiador guardou raridades, como documentos da Primeira, Segunda e Terceira Internacional (congressos que tinham como objetivo a cooperação entre as organizações da classe trabalhadora dos diversos países europeus), a primeira edição francesa de O capital, de Karl Marx, e edições raras de Engels, Stalin, Trotski e outros.
Com o acervo de Carone, o Museu Republicano, que já é uma referência nos estudos sobre a República, passa a ter a maior biblioteca do gênero, o que confirma predestinação da Casa do Barão, como lembra Eni Samara: “no dia 18 de abril de 1873, foi realizada no solar dos Almeida Prado, a reunião de fazendeiros e políticos paulistas, que resultou na fundação do Partido Republicano Paulista (PRP), cuja atuação foi fundamental para a Proclamação da República e suas primeiras décadas”.
Itu: pólo de estudos históricos
Vivi Fernandes