Os trilhos da antiga linha férrea da Central do Brasil que atravessam os municípios da Zona da Mata mineira já presenciaram as trajetórias de muita gente. Para preservar essas experiências e o patrimônio material deixado pela passagem das locomotivas, o projeto “Memória trem” uniu uma equipe de estudantes de várias áreas para visitar e registrar os lugares onde o transporte deixou sua marca.
São sete municípios pesquisados pela equipe de Marcus e Mônica Olender, do Laboratório de Patrimônios Culturais da Universidade Federal de Juiz de Fora, desde março de 2013: Ewbank da Câmara, Juiz de Fora, Matias Barbosa, Barbacena, Campo das Vertentes e Santos Dumont. A equipe registra e cataloga os objetos relacionados às estações de cada local, como antigos livros de registro, quepes de maquinistas e outros objetos que remontam à época em que a linha de trem ainda estava em funcionamento. “Estamos complementando isso através do resgate da memória de pessoas que trabalharam na rede e vivenciaram a presença do trem”, afirma Marcus Olender. Tanto que um dos resultados é o documentário, ainda sem um nome definido, que será entregue na conclusão do trabalho.
Aprovado em 2012 pelo Programa de Extensão do Ministério da Educação (Proext), o projeto trouxe algumas surpresas. Raphaela Corrêa, coordenadora executiva do “Memória Trem”, destaca o município de Santos Dumont. “O local se revelou um centro irradiador da memória ferroviária”. A criação de um time de futebol e de uma escola de samba pelos antigos funcionários da ferrovia, e que fazem parte até hoje da identidade do município, é um exemplo de como a vivência com o trem foi – e é – forte. Com o trabalho ainda em andamento, Santos Dumont e Matias Barbosa são os locais onde a pesquisa está mais avançada. “Atuamos simultaneamente em diversos municípios”, explica Corrêa. A previsão é que o projeto esteja concluído em maio deste ano.
Além da pesquisa, o projeto tem outra vertente: o “Vagão do patrimônio”, que tem como objetivo capacitar pessoas para a educação patrimonial. Durante o tempo em que o “Vagão” fica em cada município é ministrado o minicurso “Memória e patrimônio”, que tem o objetivo de envolver os moradores no projeto de preservação do patrimônio, e o “Trem de afetos”, ministrado pelo artista plástico e ex-maquinista Jorge Fonseca, que procura explorar a vivência com a ferrovia pela arte, com diversas aulas, como de pintura, de colagens e de bordado.
Ao final do projeto, serão produzidos cadernos com informações da ferrovia em cada município, e cartilhas com conceitos básicos sobre patrimônio cultural. A intenção é criar uma fonte de pesquisa. Para Marcus Olender é importante que haja uma sensibilização da comunidade. “A ausência do trem trouxe diversas dificuldades para essas regiões. O trem não era só para transporte de carga, mas um meio de intercâmbio de informações e pessoas. Esses locais estão sendo revitalizados por causa da nossa proposta”, finaliza.
Lembrança sobre trilhos
Fernanda Távora