Lembrança sobre trilhos

Fernanda Távora

  • Sete municípios da Zona da Mata mineira foram pesquisados. Na foto acima, parte da equipe que agrupou alunos de diversas áreas de estudo da UFJF.Os trilhos da antiga linha férrea da Central do Brasil que atravessam os municípios da Zona da Mata mineira já presenciaram as trajetórias de muita gente. Para preservar essas experiências e o patrimônio material deixado pela passagem das locomotivas, o projeto “Memória trem” uniu uma equipe de estudantes de várias áreas para visitar e registrar os lugares onde o transporte deixou sua marca.

    São sete municípios pesquisados pela equipe de Marcus e Mônica Olender, do Laboratório de Patrimônios Culturais da Universidade Federal de Juiz de Fora, desde março de 2013: Ewbank da Câmara, Juiz de Fora, Matias Barbosa, Barbacena, Campo das Vertentes e Santos Dumont. A equipe registra e cataloga os objetos relacionados às estações de cada local, como antigos livros de registro, quepes de maquinistas e outros objetos que remontam à época em que a linha de trem ainda estava em funcionamento. “Estamos complementando isso através do resgate da memória de pessoas que trabalharam na rede e vivenciaram a presença do trem”, afirma Marcus Olender. Tanto que um dos resultados é o documentário, ainda sem um nome definido, que será entregue na conclusão do trabalho.

    Aprovado em 2012 pelo Programa de Extensão do Ministério da Educação (Proext), o projeto trouxe algumas surpresas. Raphaela Corrêa, coordenadora executiva do “Memória Trem”, destaca o município de Santos Dumont. “O local se revelou um centro irradiador da memória ferroviária”. A criação de um time de futebol e de uma escola de samba pelos antigos funcionários da ferrovia, e que fazem parte até hoje da identidade do município, é um exemplo de como a vivência com o trem foi – e é – forte. Com o trabalho ainda em andamento, Santos Dumont e Matias Barbosa são os locais onde a pesquisa está mais avançada. “Atuamos simultaneamente em diversos municípios”, explica Corrêa. A previsão é que o projeto esteja concluído em maio deste ano.  

    Além da pesquisa, o projeto tem outra vertente: o “Vagão do patrimônio”, que tem como objetivo capacitar pessoas para a educação patrimonial. Durante o tempo em que o “Vagão” fica em cada município é ministrado o minicurso “Memória e patrimônio”, que tem o objetivo de envolver os moradores no projeto de preservação do patrimônio, e o “Trem de afetos”, ministrado pelo artista plástico e ex-maquinista Jorge Fonseca, que procura explorar a vivência com a ferrovia pela arte, com diversas aulas, como de pintura, de colagens e de bordado.

    Ao final do projeto, serão produzidos cadernos com informações da ferrovia em cada município, e cartilhas com conceitos básicos sobre patrimônio cultural. A intenção é criar uma fonte de pesquisa. Para Marcus Olender é importante que haja uma sensibilização da comunidade. “A ausência do trem trouxe diversas dificuldades para essas regiões. O trem não era só para transporte de carga, mas um meio de intercâmbio de informações e pessoas. Esses locais estão sendo revitalizados por causa da nossa proposta”, finaliza.