Lugar de azulejo é no museu

Roberto Kaz

  • Em um museu, é possível encontrar de tudo: quadros, esculturas, fotos. Em um museu moderno então, qualquer coisa vira arte: pedaço de madeira, de placa, de metal, de roupa. Nos anos 1960, ao andar pelas ruas do Rio de Janeiro, o artista plástico Hélio Oiticica se deparou com um pedaço de asfalto cuja forma lhe lembrou a ilha de Manhattan. Batizou-o de Manhattan, e em questão de dias a “obra” já valia milhares de dólares.

    No entanto, mesmo com tantas concessões, parece ter havido na história dos museus um objeto “injustiçado”, que nunca teve o privilégio de ser elevado ao status de arte. Seja o museu de arte colonial, moderna ou contemporânea, lugar de azulejo é um só: no banheiro. Ou melhor, era.

    A Vale do Rio Doce, em parceria com o Iphan e com o Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, está lançando as bases para a abertura do Centro Nacional de Referência Azulejar do Brasil – ou, simplesmente, Museu do Azulejo, – que tem inauguração prevista para setembro de 2007 em São Luís, no Maranhão. O museu – o primeiro do gênero no Brasil e na América Latina – vai ficar em um casarão tombado na parte histórica da cidade, que foi escolhida como sede por ser a capital com mais azulejos na América Latina.

    A abundância de edificações azulejadas no Maranhão teve início no século XIX, quando o estado passou a ser um grande exportador de algodão. Com o dinheiro ganho, os grandes comerciantes construíram enormes casas para suas famílias, que eram revestidas de azulejos para protegê-las do calor. Foi a partir de uma necessidade climática que acabou surgindo uma tradição cultural.

  • O Museu do Azulejo é a continuação do Inventário de Azulejos de São Luís do Maranhão, um projeto iniciado em 2004 pela Vale do Rio Doce, que catalogou 309 padrões de azulejos originários de Portugal, França, Inglaterra, Alemanha, Holanda e Espanha. Os exemplares foram encontrados em fachadas de casas, edifícios, igrejas e até em mausoléus nos cemitérios de São Luís. O mapeamento, coordenado pela pesquisadora Zelinda Lima, começou por causa da queda de três edifícios azulejados na capital maranhense:

    – A catalogação era urgente, pois os azulejos estavam desaparecendo devido à ação do tempo e ao descuido das pessoas. No município de Rosário havia uma das mais belas igrejas azulejadas do estado. Acontece que, há cerca de dez anos, todos os azulejos históricos foram trocados por exemplares novos.

    O Museu do Azulejo será instalado em um edifício na Rua Palma, 360, no Centro de São Luís. A parceria entre o Iphan e a Vale do Rio Doce também visa à formação de especialistas em restauração e manufatura de peças novas iguais aos azulejos do período colonial, por meio de um curso que já formou 13 profissionais.