A dona de casa trocou o ferro de carvão pelo ferro elétrico. Os cariocas circulavam de bonde elétrico pela cidade. O cinema começou a funcionar e as ruas, à noite, então iluminadas, deixaram de ser lugar exclusivo da malandragem local. A chegada da eletricidade, há 100 anos, representou grandes mudanças urbanas e domésticas no Rio de Janeiro. Para comemorar seu centenário, a Companhia Elétrica Light organizou três diferentes mostras (no Centro Cultural Light, no Rio) que apresentam, em fotografias e anúncios de revistas, as transformações provocadas pela instalação – e expansão – da luz elétrica na cidade.
A mostra Augusto Malta, testemunho da Luz conta com 42 das duas mil imagens feitas pelo fotógrafo, durante os 30 primeiros anos de atuação da empresa. Malta registrou as instalações de iluminação pública e os novos costumes urbanos, produzindo uma rica documentação sobre o período. Era o momento da grande reforma urbana do prefeito Pereira Passos, que vertia a capital da República de becos estreitos e sombrios em uma cidade moderna com grandes avenidas iluminadas, seguindo um projeto de saneamento do Centro da cidade. “Quando as ruas passaram a ser iluminadas pela eletricidade, houve uma proliferação de salas de cinema e confeitarias no Rio. As pessoas passaram a freqüentar o Teatro Municipal e as ruas à noite, o que até então era um reduto marginal. A introdução da iluminação elétrica significou uma ampla revolução nos costumes públicos”, afirma Luciane Bacil, curadora das mostras.
A instalação dos trilhos para bondes elétricos, na passagem do século XIX para o XX, marcou de maneira definitiva a vida urbana carioca, possibilitando que as classes de renda mais alta migrassem para áreas mais afastadas da cidade. Essa realidade é apresentada nas fotos de O transporte do carioca. As mudanças que chegaram às ruas, também chegaram aos lares. Os novos costumes domésticos, impulsionados pela luz elétrica, estão documentados nos anúncios da Revista Light. Da vassoura ao aspirador de pó, o abajur na cabeceira e o fogão elétrico na cozinha são algumas das novas cenas da vida privada presentes na mostra Reclames na Revista Light: 1928 a 1940. “O que parece ser comum hoje, como passar roupa com ferro elétrico, significou uma revolução nos costumes domésticos”, sublinha Luciane. As exposições podem ser vistas até o fim do ano.