Era uma vez uma casa de madeira, construída no subúrbio de Curitiba nos anos 1920. Ela corria o risco de ser demolida, mas não pelo lobo mau: o vilão era a supervalorização do terreno. Em 1985, ela foi desmontada, levada para o bairro Juvevê, e virou sede do Iphan no Paraná. Outras construções semelhantes, erguidas por colonos europeus e descendentes desde o século XIX, não tiveram a mesma sorte. As casas restantes são o tema da pesquisa “A Casa de Araucária: Arquitetura da Madeira em Curitiba”, que ganhou o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2011.
Publicada em três volumes, a pesquisa foi feita pelo arquiteto e urbanista Fábio Batista e pelos professores da UFPR Key Imaguire Júnior e Andréa Berriel. Eles mostram as mudanças na arquitetura das casas ao longo do tempo, as influências da imigração e a relação do sistema construtivo com o modo de viver dos moradores. “O imaginário popular vinculou essas casas à Polônia, mas elas foram construídas também por colonos italianos, ucranianos e de outros países”, diz Batista.
As casas de madeira marcaram o cenário curitibano até os anos 1970, quando começaram a perder espaço para o concreto. “O preconceito é grande. Muitos dizem que as casas são ‘coisa de pobre’; outros fazem só a fachada de alvenaria para disfarçar”, conta José La Pastina, superintendente do Iphan no Paraná. A boa notícia é que cerca de 500 exemplares deste livro foram doados a bibliotecas municipais da cidade para, quem sabe, ajudar a criar consciência na população.