Maratona pela leitura

Cristina Romanelli

  • Enfrentar estradas esburacadas, pedir permissão ao cacique para cruzar o território de uma tribo indígena e, finalmente, esperar as águas do rio baixarem. Parecem cenas de um filme de aventura, mas são apenas A biblioteca da cidade de Brejetuba, no Espírito Santo, foi inaugurada em julho de 2005. Embora receba adultos, são estudantes que a visitam com mais frequência.algumas das dificuldades enfrentadas pela equipe do Programa Livro Aberto, da Fundação Biblioteca Nacional, para proporcionar acesso à leitura do Oiapoque ao Chuí.

    Iniciado em 2004, sob a coordenação do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), o programa se propõe a instalar bibliotecas públicas em todas as cidades brasileiras até o fim deste mês. Uma tarefa nada fácil, e que corre contra o relógio. De acordo com o Diário Oficial publicado em fevereiro, ainda havia 420 municípios sem biblioteca pública.

    “Para ajudar a criar bibliotecas, doamos às prefeituras um kit com dois mil livros, computador, impressora, televisão, entre outras coisas. E os municípios que já dispõem de bibliotecas podem solicitar kits de modernização, que têm algumas diferenças, como o total de mil livros e onze computadores”, explica Ilce Cavalcanti, coordenadora do SNBP. O orçamento de cerca de R$ 85 milhões, compartilhado com uma ação de incentivo à leitura do Ministério da Cultura, é gasto, em grande parte, nos equipamentos doados.

    Até 2009, mais de quatro milhões de livros foram distribuídos entre as 1206 bibliotecas inauguradas e as 506 modernizadas. Segundo Ilce, uma comissão de professores e pesquisadores seleciona os títulos nas categorias infanto-juvenil, ficção e não ficção.

    Para participar da iniciativa, as prefeituras devem preencher um formulário disponível na Internet e entregá-lo ao SNBP juntamente com os documentos necessários. Entre as exigências está a disponibilidade de uma área mínima de 60 metros quadrados para a instalação da biblioteca, que deve ser comprovada com a planta baixa ou o croqui do imóvel.

    Algumas prefeituras estão com documentos pendentes e outras sequer solicitaram a participação no programa. Nessas horas, é preciso obstinação. A equipe do SNBP telefona, envia cartas, mensagens por fax e e-mails para os municípios. “Algumas prefeituras não demonstram interesse, e às vezes até se negam a receber o material”, denuncia a coordenadora.

    As dificuldades continuam mesmo depois da inauguração das bibliotecas. De acordo com Ilce, o Sistema Estadual de Bibliotecas faz um acompanhamento, mas isto não é suficiente para manter as informações atualizadas. “É preciso verificar se o kit está mesmo na biblioteca, se a televisão não foi parar na casa de alguém. Mas como é difícil acompanhar tudo, contamos com os relatórios das prefeituras”, diz ela.

    O problema é que essas informações nem sempre são confiáveis, o que torna o trabalho do SNBP ainda mais importante. Com o prazo apertado, a equipe do Programa Livro Aberto se mantém animada e espera comemorar em breve um grande feito para o desenvolvimento cultural do Brasil.