Enfrentar estradas esburacadas, pedir permissão ao cacique para cruzar o território de uma tribo indígena e, finalmente, esperar as águas do rio baixarem. Parecem cenas de um filme de aventura, mas são apenas
algumas das dificuldades enfrentadas pela equipe do Programa Livro Aberto, da Fundação Biblioteca Nacional, para proporcionar acesso à leitura do Oiapoque ao Chuí.
Iniciado em 2004, sob a coordenação do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), o programa se propõe a instalar bibliotecas públicas em todas as cidades brasileiras até o fim deste mês. Uma tarefa nada fácil, e que corre contra o relógio. De acordo com o Diário Oficial publicado em fevereiro, ainda havia 420 municípios sem biblioteca pública.
“Para ajudar a criar bibliotecas, doamos às prefeituras um kit com dois mil livros, computador, impressora, televisão, entre outras coisas. E os municípios que já dispõem de bibliotecas podem solicitar kits de modernização, que têm algumas diferenças, como o total de mil livros e onze computadores”, explica Ilce Cavalcanti, coordenadora do SNBP. O orçamento de cerca de R$ 85 milhões, compartilhado com uma ação de incentivo à leitura do Ministério da Cultura, é gasto, em grande parte, nos equipamentos doados.
Até 2009, mais de quatro milhões de livros foram distribuídos entre as 1206 bibliotecas inauguradas e as 506 modernizadas. Segundo Ilce, uma comissão de professores e pesquisadores seleciona os títulos nas categorias infanto-juvenil, ficção e não ficção.
Para participar da iniciativa, as prefeituras devem preencher um formulário disponível na Internet e entregá-lo ao SNBP juntamente com os documentos necessários. Entre as exigências está a disponibilidade de uma área mínima de 60 metros quadrados para a instalação da biblioteca, que deve ser comprovada com a planta baixa ou o croqui do imóvel.
Algumas prefeituras estão com documentos pendentes e outras sequer solicitaram a participação no programa. Nessas horas, é preciso obstinação. A equipe do SNBP telefona, envia cartas, mensagens por fax e e-mails para os municípios. “Algumas prefeituras não demonstram interesse, e às vezes até se negam a receber o material”, denuncia a coordenadora.
As dificuldades continuam mesmo depois da inauguração das bibliotecas. De acordo com Ilce, o Sistema Estadual de Bibliotecas faz um acompanhamento, mas isto não é suficiente para manter as informações atualizadas. “É preciso verificar se o kit está mesmo na biblioteca, se a televisão não foi parar na casa de alguém. Mas como é difícil acompanhar tudo, contamos com os relatórios das prefeituras”, diz ela.
O problema é que essas informações nem sempre são confiáveis, o que torna o trabalho do SNBP ainda mais importante. Com o prazo apertado, a equipe do Programa Livro Aberto se mantém animada e espera comemorar em breve um grande feito para o desenvolvimento cultural do Brasil.
Maratona pela leitura
Cristina Romanelli