O município de Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, já é conhecido por suas dezenas de sítios arqueológicos. Mas escavações feitas de 1999 a 2001 em três engenhos de cana-de-açúcar trouxeram informações preciosas sobre o cotidiano dos escravos da região. Fragmentos de cerâmicas, louças, vidros e metais descobertos por arqueólogos na área do atual reservatório da Usina Hidrelétrica de Energia Manso fornecem pistas das práticas culturais, identidades e crenças desses indivíduos. As decorações dos vasilhames cerâmicos, por exemplo, indicam que as visões de mundo de origem africana foram mantidas pelos escravos nesses locais.
Os engenhos Rio da Casca, Água Fria e Quilombo, ocupados entre os séculos XVIII e XIX, revelaram uma grande quantidade de cerâmicas artesanais, predominando panelas, tigelas, potes e pratos. Louças europeias de baixo custo também foram encontradas, além de garrafas de vidro.
Pesquisas como essas têm sido feitas sistematicamente nos últimos quarenta anos nos Estados Unidos, onde há uma intensa discussão sobre a identidade dos produtores das cerâmicas artesanais. Muitos artefatos encontrados em sítios ocupados por escravos teriam sido confeccionados pelos próprios cativos ou por índios da região, mas também podem ser produto das trocas culturais com os europeus. Essa polêmica se deve à pouca similaridade entre as tradições ceramistas ricamente decoradas da África Ocidental e as cerâmicas norte-americanas, que apresentam formas simples e sem decoração.
Mato Grosso da África
Luís Cláudio Pereira Symanski