O ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes de Alencar (1916-2005) morreu há cinco anos, mas sua memória está preservada no casarão onde ele morava, no bairro de Casa Forte, no Recife. São mais de 200 mil documentos referentes a mais de 50 anos de vida pública e de sua vida privada, correspondências, manuscritos dos documentos oficiais e livros que escreveu, já higienizados e organizados pela equipe do instituto que leva seu nome, e que foi constituído em 2006 por sua viúva, Magdalena Arraes, e seus dez filhos. Agora, o Instituto Miguel Arraes busca parcerias para catalogar e pôr esse acervo à disposição do público.
“Só de cartas do exílio são mais de 80 mil, para personalidades internacionais como Bertrand Russell, o papa Paulo VI, o líder palestino Yasser Arafat e Hortência Allende, viúva do presidente chileno Salvador Allende, e brasileiros como Luiz Carlos Prestes, Oscar Niemeyer, Leonel Brizola, Carlos Marighela, Ulysses Guimarães, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Francisco Julião”, conta Joaquim Pinheiro, sobrinho do ex-governador e um dos guardiões do acervo.
A partir dos anos 1960, Miguel Arraes foi uma bússola da política nordestina. Foi prefeito do Recife, governador de Pernambuco três vezes – a primeira, em 1962, numa aliança que derrotou as oligarquias canavieiras que governavam o estado desde o Império. Ao implantar programas sociais, como o salário-mínimo para os trabalhadores rurais, incentivo à criação de sindicatos e associações comunitárias, foi tachado de esquerdista, deposto, preso, cassado pelo golpe militar de 1964 e obrigado a deixar o Brasil.
Exilou-se na Argélia, de onde manteve intenso contato com a oposição ao regime militar. Com a Anistia, em 1979, foi reeleito mais duas vezes governador e duas vezes deputado federal, primeiro pelo PMDB e depois pelo PSB, do qual se tornou a maior expressão no Brasil até sua morte, em 2005. Ainda no governo de Pernambuco, começou a organizar os documentos de sua vida política e sobre ciência e tecnologia, que considerava ferramentas importantes para melhorar as condições de vida das populações mais carentes. “O que aconteceu aqui faz parte da História, está guardado em papel e traz uma contribuição para se conhecer o período em que ele viveu”, conta Magdalena Arraes.
Enquanto as parcerias são negociadas, a equipe do Instituto já higienizou e organizou os documentos por tipo (ofício, carta, etc) e por cronologia. Mesmo sem parceiros, a instituição já fez o livro, o DVD e a exposição “Arraestaqui”, com charges publicadas por Laílson na imprensa pernambucana entre 1979 e 2002. “Além de catalogar e abrir o Instituto Miguel Arraes ao público, uma parceria nos permitirá divulgar seu pensamento, sua forma de atuar politicamente, conciliando interesses diferentes”, diz Joaquim Pinheiro.
Memória pronta para visitas
Beatriz Coelho Silva