Uma escola antiga erguida com vigas de madeira e tijolos: esta é uma das construções feitas com técnicas trazidas pelos imigrantes alemães em meados do século XIX, hoje tombadas na cidade de Pomerode, em Santa Catarina. A próxima etapa do trabalho já está sendo realizada: um convênio assinado pelo Iphan-SC com a Fundação Cultural do município para o repasse de R$ 220 mil para realizar obras no município, com conclusão prevista até o fim deste ano. A verba será usada para a conservação de propriedades rurais pré-selecionadas, organização de um escritório do Iphan para atender ao público e desenvolvimento de um projeto de certificação de produtos tradicionais, como embutidos, geleias, pães e doces típicos.
Pomerode é um dos quarenta municípios já mapeados no estado de Santa Catarina. Entre essas cidades, 16 tiveram bens imóveis já tombados pelo Iphan, no âmbito do projeto Roteiros Nacionais da Imigração, a partir de 2007. “Foi uma das primeiras iniciativas institucionais que tomaram a paisagem como elo de entendimento de bens patrimoniais”, explica o arquiteto Douglas Heidtmann Jr., especialista em paisagem cultural da imigração alemã. Os tombamentos realizados compreendem 61 construções, a maioria casas, mas também conjuntos urbanos e rurais, igrejas, escolas, depósitos e pontes.
A arquiteta Maria Regina Weissheimer, do Iphan de Santa Catarina, acredita que o grande desafio do projeto é a preservação da propriedade rural dos imigrantes alemães. O crescimento urbano desenfreado e a industrialização em larga escala afetam a manutenção da pequena produção e dos produtos tradicionais, fontes de sustento das famílias e de suas propriedades nessas regiões. “Se atualmente aplicássemos, minimamente, o modelo de ocupação territorial dos imigrantes da região Sul, suas técnicas construtivas e o modelo econômico da pequena propriedade, teríamos um ordenamento territorial muito mais sustentável e menos suscetível a catástrofes, como enchentes e deslizamentos”, afirma a arquiteta.
Outras localidades buscam seguir o exemplo de Santa Catarina, como Mariental, distrito da Lapa, no sul do estado do Paraná. Um inventário realizado em junho de 2010 pelo Iphan-PR, em parceria com o Departamento de Cultura da Prefeitura da Lapa, classificou 25 edificações, 12 com indicação para tombamento, como bens imóveis da comunidade de origem russa-alemã na cidade. A estimativa é a de que, uma vez finalizado e instituído o Plano Diretor Municipal, o processo de tombamento dos bens do Centro Histórico de Mariental possa começar dentro de um ano ou um ano e meio.
Para Douglas Heidtmann Jr., o valor atribuído ao patrimônio cultural dos imigrantes mantém um tipo de identidade – étnica, local ou regional – essencial para que as pessoas se sintam seguras, unidas por laços a seus antepassados. “A preservação e a valorização da paisagem cultural unem as pessoas a um local, a uma terra, a costumes e hábitos que podem dar segurança, que informam quem elas são e de onde vêm, não se perdendo na enorme quantidade de informações e estímulos oferecidos pelo mundo atual”, declara o arquiteto.
Memória protegida
Déborah Araújo