Dizem por aí que, depois de virar presidiário, um homem não se encaixa mais na sociedade. Pois em Vitória da Conquista, 500 quilômetros ao sul de Salvador, na Bahia, a história é bem diferente. Hélio Alves Teixeira foi o primeiro de cerca de vinte detentos a escrever um livro dentro da prisão. Hoje, já liberto, ele dá palestras, cursos, e mantém a carreira de escritor. Tudo isso é resultado da parceria entre o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), vinculado à Fundação Biblioteca Nacional, e a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Ações como essa estão acontecendo nos 70 comitês do Proler espalhados pelo país. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, a Casa da Leitura, sede do programa, tenta aumentar ainda este ano o número de atividades e cursos direcionados à promoção da leitura.
“O Brasil não é um país leitor. Eu tive uma formação leitora na época em que as escolas públicas eram um exemplo, mas hoje poucas crianças têm essa chance. Temos grande dificuldade na continuidade”, lamenta Ira Maciel, coordenadora nacional do Proler. Há 18 anos, entre altos e baixos, o programa tenta ampliar e estabilizar a prática da leitura, seja abrindo novas bibliotecas, distribuindo materiais escritos ou incentivando o contato com livros dentro e fora das escolas. Também realiza uma série de atividades em sua sede, que fica no bairro de Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
A Casa da Leitura tem duas bibliotecas demonstrativas, ou seja, nelas os usuários aprendem como organizar os livros e pesquisar nas estantes. Lá também fica o Centro de Referência e Documentação em Leitura, com 470 trabalhos e artigos sobre o tema. Mas o que anda agitando a equipe são os diversos cursos, debates e palestras. “Desde o início do ano, estamos aumentando os cursos. Temos 15 em desenvolvimento. Existe uma demanda para isso; é importante que o professor se torne leitor”, diz Ira. A programação pode ser vista no site do Proler ou na agenda on-line da RHBN.
O programa também organiza encontros dos comitês pelo país inteiro e patrocina cursos e atividades locais. “Nossas ações não são centralizadas, porque cada comitê tem realidades bem diferentes. Alguns são ligados a universidades, secretarias de Educação e de Cultura, bibliotecas públicas e outras entidades. Nos encontros, nós trocamos experiências”, conta Ira.
O comitê de Vitória da Conquista foi o primeiro a participar do programa, em 1992. O trabalho com presidiários é feito desde o início, mas ainda enfrenta dificuldades. “Por exemplo, os professores e diretores não querem que os presos escolham os livros”, diz Heleusa Câmara, coordenadora do comitê. O mesmo problema não existe nas outras prisões da Bahia: todas têm uma sala de leitura com obras solicitadas pelos presidiários. Para Heleusa, esta é uma iniciativa que poderia se tornar padrão em todo o país: “Seria ótimo, porque as pessoas podem ter a vida mudada com isso. A leitura abre muitas portas”.
Saiba mais - Internet
Informações sobre o Proler e os cursos oferecidos na sede do programa podem ser vistas no site www.bn.br/proler.
Saiba mais - Serviços
A Casa da Leitura fica na Rua Pereira da Silva, 86, Laranjeiras.
Memórias do cárcere
Cristina Romanelli