Músicas africanas e indígenas no Brasil

Rosângela P. de Tugny e Ruben Caixeta de Queiroz (orgs.)

  • O brasileiro contemporâneo está mais afastado do ameríndio do que do japonês e do húngaro! Pelo menos assim já pensava Mário de Andrade no livro Ensaio sobre a música brasileira, de 1928. A análise do autor de Macunaíma ainda é bem atual; exemplo disso é perceber que (diferentemente do que muitos pensam) o Brasil civilizado não calou as vozes indígenas e negras dos xamãs, dos pais-de-santo, dos caciques e dos mestres de capoeira. Até hoje elas gritam suas marcas, lutas e dramas. No entanto, ouvidos e mentes domesticados pela tradição européia permanecem surdos e relegam tais manifestações ao desprezo.

    Refletindo as tradições musicais que interagiram e se influenciaram ao longo da história do país, esta coletânea não só denuncia a insensibilidade ocidental como desvenda as lutas pela cidadania por meio das manifestações orais, práticas simbólicas e noções de sagrado.       

    Entre os artigos, podemos nos deleitar com temas como tradução de cantos indígenas, o Reinado de Nossa Senhora do Rosário (manifestação mineira que é fruto do sincretismo católico e origens bantu), a música na Capoeira Angola de Salvador e direitos autorais.

    Ler e ouvir Músicas africanas e indígenas no Brasil (pois a edição traz dois CDs) nos leva a ousar e reconhecer definitivamente que o que de início nos parecem afinações insólitas sacrificantes, fazem parte também do reconhecimento de que música não é só simetria e regularidade. Já é tempo de deixarmos para trás a concepção de que sons étnicos são registros folclóricos ou “barulhos da natureza”. Esta é uma leitura para quem está disposto a romper com os ouvidos e olhos universais que ouvem e vêem o mesmo mundo.  

     

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    Nataraj Trinta