A Biblioteca Nacional abriga velhinhos que, mesmo prestes a completar cem primaveras, estão em ótima forma. Se você pensa que há algum reduto de idosos por lá, está muito enganado. Estamos falando de estantes, mesas e escrivaninhas. O “asilo” desses sobreviventes é a Sala Aloísio Magalhães, nome oficial do recinto onde está instalado o Setor de Iconografia.
O local foi transformado em uma sala-museu, na qual foram reunidos vários móveis adquiridos na época da inauguração da sede atual, em 1910. Monica Carneiro, funcionária da Iconografia, explica a origem dos “vovôs”: “Eles foram comprados pouco antes da inauguração da sede atual em duas levas, depois de analisadas propostas de várias empresas. A primeira parte dos móveis chegou em 1908, fornecida pela empresa americana Art Metal Construction Company. Na segunda, um ano depois, a também americana Van Dorn Works Company foi a escolhida”.
Em parte, as relíquias estão conservadas por terem passado por duas “plásticas”. “Quando foram trazidos para esta sala, na década de 1970, os móveis foram restaurados. Depois, já na década de 90, foram reformados novamente”, explica Monica. Além dos originais, a Iconografia também abriga outros móveis e adornos que reproduzem o estilo da época. É o caso de várias estantes, réplicas exatas das usadas na década de 1910. Exatas? Quase. “Tem uma pequena diferença: parte da estrutura das originais era de vidro”, diz ela.
Mesmo hoje, alguns exemplares desse mobiliário impressionam pela engenhosidade. Um bom exemplo é uma escrivaninha. Quando o usuário desce uma espécie de tampa que protege a mesa de trabalho, todas as gavetas são trancadas automaticamente. Além disso, o móvel cumpre uma nobre função: nele estão expostos itens menores, como um telefone, objetos de escritório, jogos de canetas de pena e tinteiros e até mesmo caixas de bala inglesas. Todos com muitas décadas de uso.A busca por esses pequenos troféus mobilizou funcionários de toda a BN: “Depois que começamos a montar essa pequena coleção, várias pessoas contribuíram resgatando e enviando itens que estavam perdidos em outros setores”. E as “pesquisas” chegaram até o velho continente. “Nós tínhamos uma caixa de balas da época. Quando o nosso chefe foi a Londres, descobriu que a loja ainda existia e trouxe outra, maior”, conta Monica.
Se os funcionários gostam de trabalhar em móveis centenários? A resposta de Monica está na ponta da língua: “Nós adoramos, até porque eles são muito espaçosos e confortáveis”.
O relato detalhado da aquisição do antigo mobiliário pode ser encontrado no nº 31 dos Anais da BN, disponíveis no site da instituição (http://www.bn.br).
Na flor da idade
Igor Mello