Um torreão de cinco andares vigia, silencioso, trezentos hectares de campos e jardins. No interior do castelo em estilo medieval, espalhadas pelos quarenta e quatro cômodos, estão pinturas e fotografias de personalidades como Santos-Dumont e Franklin Roosevelt. Entre os milhares de obras da biblioteca, há dezenove volumes da Enciclopédia de Diderot e D’Alembert, publicada no século XVIII. O cenário seria perfeito para um filme de época em alguma província na Europa. Mas o castelo em questão fica aqui no Brasil, encravado no pampa gaúcho. Propriedade da família do diplomata Joaquim Francisco de Assis Brasil (1857-1938), está em péssimo estado de conservação. Hoje, só poderia ser cenário de filmes de terror. Por isso, a única moradora, Lydia Assis Brasil, neta do diplomata, está buscando recursos para a restauração do edifício.
O castelo foi construído no município de Pedras Altas pelo próprio Assis Brasil, que foi deputado na Assembleia Nacional Constituinte e fundador do Partido Republicano Democrático e do Partido Libertador. Nem todos os problemas de deterioração do prédio foram causados pelo tempo. O casarão tem uma vidraça quebrada que é prova de um conflito histórico: a Revolução Libertadora (1923). Segundo a historiadora Vera Lúcia Bogéa Borges, professora do Colégio Pedro II do Rio de Janeiro, o diplomata e seus aliados exigiam o fim da reeleição sucessiva de Borges de Medeiros, que já estava em seu quinto mandato como presidente do estado. A disputa resultou na invasão da construção medieval. Na ocasião, Assis Brasil teria afirmado que “toda casa deve ter suas cicatrizes”, e não deixou que consertassem a vidraça. No mesmo ano, ali foi assinado o acordo que permitiu a Vargas concorrer e assumir o governo do estado em 1928.
Lydia se mudou para o local em 1999. “Quando vim para cá, a casa já tinha muitas goteiras. O subsolo também está mal. Demoramos três horas para sugar a água acumulada depois de alguns dias de chuva”, diz ela. Apesar de tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), o castelo também tem problemas no encanamento e na rede elétrica, e sofre com curtos-circuitos. O projeto de recuperação, orçado em mais de R$ 5 milhões, foi aprovado pela Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, em 2008. “Temos até o fim do ano para obter recursos. Podemos prorrogar o prazo, mas só se conseguirmos alguma quantia”, conta Lydia.
O orçamento é só para a parte estrutural do castelo. Fica de fora todo o acervo, que inclui a biblioteca, o relógio que pertenceu a Bento Gonçalves, líder da Revolução Farroupilha, móveis da época importados da Europa, além de muitos documentos. Para ajudar nas despesas atuais, Lydia recebe visitantes, que não se encantam só com a história do lugar, mas também com o ambiente medieval. “O castelo tem inspiração romântica. O interessante é que ele fica em um local onde a natureza está tão presente quanto a construção. Forma um cenário muito bucólico”, conta a historiadora da arte Claudia Ricci.
Serviço:
Informações e agendamento de visitas ao castelo pelo telefone (53) 3613-0099.
Na Idade das Trevas
Cristina Romanelli